domingo, 16 de setembro de 2012

Matéria resumida da P1 - História do Rio de Janeiro



Aqui e agora, as duas primeiras apostilas: CONQUISTADORES  E  NEGOCIANTES  e  VILLEGAGNON (histórico da França Antártica)

Bons estudos, galera!


CONQUISTADORES  E  NEGOCIANTES
A conquista do Rio de Janeiro pelos lusos acontecera num momento em que o império português achava-se atacado em várias frentes, e eram sempre conflitos que oneravam em muito o erário. A solução para vencer os franceses e seus aliados tamoios entre 1560 e 1570 fora utilizar-se do velho sistema de mercês, ou seja: a conquista da região da Guanabara aconteceria com recursos da própria América Portuguesa.
Com isso, compreende-se o apelo do governador-geral Mem de Sá e seus capitães-mores Estácio de Sá e Antonio Salema em relação aos seus ministros, oficiais e aos potentados locais, todos como leais vassalos deveriam concorrer nas lutas contra os franceses e tamoios com seus recursos próprios  e dirigi-las.
 Mesmo os não “funcionários” vinham para a refrega. Estes e aqueles supracitados vinham  não somente em pessoa  mas também com todo um séquito – cabedais, parentes, escravos e flecheiros, entre tantos – que serviram inclusive para o bem e a povoação das plagas do Rio de Janeiro.
Tais ajudas lhes facultaria  solicitar futuras mercês régias e honrarias, conforme a lógica do Antigo Regime para aqueles desbravadores; afinal, nobreza se definia por ter cabedais para servir ao rei, sendo isso válido para os que pretendiam tornar-se cavaleiros ou para os que já o eram.
Com isso, formaram-se redes políticas entre segmentos das elites regionais e inter-regionais, constituição de uma nobreza da terra, interferência das parentelas dos conquistadores no governo da cidade e na montagem da economia da capitania.



 VILLEGAGNON E A SEQUÊNCIA DA FUNDAÇÃO DA FRANÇA ANTÁRTICA
Os franceses conheciam o Brasil (não com esse nome) desde a viagem de Jean Cousin pela foz do rio Amazonas em 1488. O armador francês Jean Ango possuía um comércio rendoso entre Brasil e França no século XVI que lhe rendera vultosos lucros com o transporte de madeira de pau-brasil, produtos, animais tropicais e até alguns indígenas para os portos da Normandia e Bretanha. Comentavam nesses portos que os portugueses raramente saíam de suas capitanias e que os tamoios não gostavam do modo como os peró (denominação dada pelos nativos aos portugueses) os tratavam. Todos os anos, navios franceses viajavam regularmente para a dita América Portuguesa, levando machados e bugigangas de todo gênero para a troca com os indígenas por todas aquelas mercadorias supracitadas, que faziam o gênero na Europa. Os artefatos de metal trazidos pelos franceses  produziram um avanço tecnológico significativo em algumas tribos, passando-as praticamente da idade da pedra em que se situavam para o uso dos metais sem ao menos saber como se criavam tais artefatos.
Os portugueses irritaram-se com esse intercâmbio vantajoso para os franceses, ainda achando-se abonados pelo tratado de Tordesilhas, mas esses faziam até mesmo reconhecimentos cartográficos na costa brasileira, tamanha a demanda do comércio e o privilegiado ponto estratégico da região.
A preparação da viagem exploratória de Villegagnon fora discretíssima e fora coberto de caráter comercial. Os indígenas informaram-no sobre os portos mais abrigados da região para que pudesse instalar a colônia francesa, núcleo da futura França Antártica, além de narrar-lhe sobre os hábitos dos portugueses. Soube que os lusos adiaram a instalação na Guanabara temendo os numerosos tupinambás, que os detestavam; com isso, esforçou-se Villegagnon para se relacionar com a maior cordialidade possível com os indígenas, o que se tornaria o fator decisivo para a próxima empreitada francesa na região.
Sucesso comercial garantido, Villegagnon ao retornar convencera o rei Henrique II sobre as possibilidades comerciais de uma colônia permanente no Brasil. Este ordenara ao seu principal ministro, o almirante Coligny (ainda católico na época) a preparação de uma expedição colonizadora ao Brasil e entregou o comando a Villegagnon. Partiram de Dieppe  a 14 de agosto de 1555 e dois meses e meio depois chegaram a Búzios.
Tendo chegado à Guanabara em 10 de novembro de 1555, tratou Villegagnon de estabelecer um forte na ilha de Serigipe e um contato habilidosamente amistoso com os nativos, diferente dos portugueses, vindos para escravizá-los para a mão-de-obra do cultivo de cana-de-açúcar. Segundo André Thevet, os víveres eram fornecidos pelos indígenas em troca  de objetos de pequeno valor. Não havia escassez de intérpretes pois na região viviam normandos desertores de outras viagens que habitavam com os índios e já eram fluentes na língua dos tupinambás. Entretanto, a situação político-religiosa na França e a penúria do erário francês não permitiriam enviar reforços substanciais para fortalecer a cabeça-de-ponte a ser instalada no Rio de Janeiro.
    A qualidade do elemento humano recrutado para essa empreitada foi o primeiro sério problema enfrentado por Villegagnon na instalação e administração da França Antártica. Boa parte fora arregimentada nas prisões do norte francês e eram pessoas  de mau caráter, indisciplinados e indolentes; muitos vieram para a Guanabara para se livrar das prisões, das galés ou mesmo das penas de morte, embora alguns fossem hábeis artesãos e/ou operários eficientes também. Muitos chegavam enfraquecidos ou adoecidos pelos rigores da travessia marítima e usavam de todo tipo de artifício para não trabalhar. O almirante precisou de muita energia para fazê-los trabalhar duro. A utilização de mão-de-obra indígena foi a solução para suprir essa dificuldade, mas meses depois os indígenas tornaram-se esquivos, pois muitos deles cansaram-se desse tipo de presente e queixavam-se do excesso de trabalho, visto que os franceses se eximiam das funções mais agrestes.
     Por falta de diplomacia do almirante, a questão sexual fora também uma chaga que doera fundo nas intenções de firmar o estabelecimento francês na Guanabara. Homens  que enfrentaram meses de difícil viagem e que se submetiam à rígida disciplina do Cavaleiro de Malta (Villegagnon), religioso intransigente, que abominava a idéia do comércio amoroso estabelecido entre os indígenas e os recém-chegados de além-mar, com a complacência do cacique Cunhambebe e dos maridos e pais das jovens, que recebiam presentinhos como compensação pelos favores concedidos pelas moças. Quando o almirante passou a exigir que seus marujos e colonos se casassem  com as moças   perante o notário, houve a oposição de muitos dos franceses, que preferiram fugir para a floresta e viver com os indígenas, perdendo assim, a colônia, homens de valiosa colaboração; outros, casaram-se contra a vontade e alguns que não cumpriram e ficaram foram punidos e até ameaçados de morte. Mas era a mentalidade da época, tanto para protestantes quanto para católicos.  O fato é que a disciplina, já de difícil imposição, ficara insuportável.
    A antropofagia dos tupinambás era outra questão espinhosa para o sucesso das relações entre franceses e nativos. Várias discussões aconteceram entre Villegagnon e Cunhambebe sobre a proibição dos indígenas comerem seus inimigos, coisa que pouca importância tinha para o êxito da França Antártica mas que os locais defendiam por tradição. O apoio de mão-de-obra nativa declinou em qualidade e quantidade no mesmo tempo em que o número de franceses diminuía dia após dia. Graças ao prestígio que Villegagnon gozava em Portugal é que os lusos receavam atacar o Forte Coligny:  só quando ele retornara à Paris para justificar-se de acusações calvinistas do gerenciamento da colônia é que Mem de Sá  atacara o forte, e ainda assim teve sucesso por causa do abandono dos seus defensores e da traição de um francês.
     Villegagnon escreve a Calvino (31 de março de 1557), explicando as graves dificuldades coloniais que o afligiam nos trópicos; da mesma forma (e por intermédio de seu sobrinho, Bois-Le-Comte), escrevera ao rei, ao Duque de Guise, a Coligny e a outras personalidades expondo a situação e solicitando reforços. Coligny terminara por mandar um pequeno e inexperiente grupo de calvinistas, que só dificultariam ainda mais a situação da colônia e seu fundador. Após escapar de um atentado contra a sua vida, o almirante viu a situação da colônia – tanto o forte Coligny, na ilha de Serigipe, quanto as instalações urbanas no continente, denominadas de Henriville -   ficar cada vez mais precária. Ao final, restara-lhe ao redor um reduzido número de franceses e escoceses (estes, de sua guarda pessoal) e alguns indígenas fiéis.
     Os portugueses infligiram uma derrota aos franceses e seus aliados indígenas em 1560, quando se reagruparam os sobreviventes e se refugiaram no Morro da Glória, plenamente ocupado e fortificado. Finalmente, em 1567, a investida de Estácio de Sá contra aquelas baterias fora decisiva de tal modo que forçara os franceses à busca dum acordo: quatro naus levaram a maioria dos derrotados de volta à França, um tanto resolvera ficar no convívio com os tupinambás, e só regressaram à Europa bem mais tarde. Estácio de Sá morreria com uma flechada envenenada naquela abordagem decisiva.




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