segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Vestígios do Rio Colonial (anexo tabelas)



Mais uma parte da apostila de História do Rio de Janeiro. Abração, povo da História!


OS VESTÍGIOS DO RIO COLONIAL

     Já se sublinhava a necessidade estratégico-mercantil do Rio de Janeiro antes de se tornar a porta de entrada para o Eldorado das Gerais. Segundo Brandônio, “(...)uma galharda fortaleza bem nutrida de artilharia, munição e soldados (...) uma cidade, posto que pequena, bem situada, a qual é de presente de grande commércio; porque vem a ella muitas embarcações do Rio da Prata, trazendo riqueza muitas em patacas(...) tomam porto as náos que navegam do reino pêra Angola, aonde carregam farinha da terra (mandioca) de que abunda toda esta capitania em grande cantidade (...)” .  Percebe-se indicações-chave neste texto sobre a economia carioca ao final do século XVI: um estamento militar, uma burguesia mercantil em estágio embrionário e de uma burocracia incipiente. Uma cidade onde, certamente, pululavam muitas patacas (reais de oito, moeda da época).
    Com o declínio português na Ásia, o comércio ilícito de prata peruana via Rio da Prata alçou o Rio de Janeiro a um degrau de relativa importância no comércio com as Índias, pois Portugal ficara sem o Japão e sofrera rude golpe com a abertura da rota Acapulco-Manilla pelos espanhóis, agora senhores das Filipinas. No entanto, a mercadoria mais importante era o escravo: um tripé vantajoso para a elite mercantil carioca era a exportação para Angola de farinha de mandioca do Recôncavo Fluminense, a obtenção de escravos africanos e a reexportação dos mesmos para Buenos Aires e daí para as minas de Potosí. Aos poucos, solidificaria a importância comercial da cidade fluminense nas redes do império português. O Rio exportava cachaça, algum alimento (farinha de mandioca, açúcar, fumo) e reexportava tecidos europeus. Importava marfim e escravos, obtendo algum ouro em pó na África e, simultaneamente, importava de Portugal tecidos, vinhos, bacalhau, exportando para lá açúcar. Adquiria tabaco de Salvador onde, de forma ilegal, o fumo de primeira qualidade era negociado com comerciantes europeus no Golfo da Guiné, após ser disfarçado como de “terceira qualidade”...
    A partir da descoberta de ouro nas Gerais (final do século XVII e início do século XVIII), intensifica-se o tráfico negreiro para a extração de ouro e aumento da produção do açúcar fluminense. Terceiro produtor de açúcar, com pouco mais de 10 mil  toneladas por anos em mais de seiscentos engenhos , o Rio de Janeiro presenciou no período de 1736 a 1810 o trânsito de uma multidão de escravos no seu porto; cerca de 580 mil. Nos idos de 1730, embora  a cidade tivesse apenas cerca de 30 mil habitantes, havia 17 navios registrados no porto dedicados exclusivamente ao tráfico de escravos.
   

EXPORTAÇÕES
           (EM REAIS)


IMPORTAÇÕES
(EM REAIS)

A   N   O

R E G I Ã O
254:152$100
368:777$390
1810
Benguela
779:708$000
933:124$000
1811
Portugal
113:715$336
577:966$890
1812
Índia
( fonte : “O Arcaísmo Como Projeto”, páginas 110 a 113)

 
Tecidos reexportados pelo RJ após compra externa – para Santos, RS, Benguela e Angola

1810-11-12

4:387:831$606
Escravos reexportados pelo RJ para Santos e RS
1810-11-12
500:614$900
Açúcar exportado pelo Rio para Portugal
1810-11-12
1:913:711$000
Reexportações de bens externos  para o mercado interno na comparação com o açúcar para Portugal no mesmo período
                      
   Como se pode notar, mesmo sendo uma praça oficialmente deficitária (tabela 1), as redes de intermediação pulverizam esse aspecto (tabela 2), gerando significativas receitas para a elite mercantil fluminense. O Rio de Janeiro mostra-se, de jure, como o eixo vital de negociações financeiras no Atlântico Sul , transformando esta cidade fluminense como a principal fonte econômica do império português.  

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