Mais uma parte da apostila de História do Rio de Janeiro. Abração, povo da História!
OS
VESTÍGIOS DO RIO COLONIAL
Já se sublinhava a necessidade estratégico-mercantil
do Rio de Janeiro antes de se tornar a porta de entrada para o Eldorado das
Gerais. Segundo Brandônio, “(...)uma galharda fortaleza bem nutrida de
artilharia, munição e soldados (...) uma cidade, posto que pequena, bem
situada, a qual é de presente de grande commércio; porque vem a ella muitas
embarcações do Rio da Prata, trazendo riqueza muitas em patacas(...) tomam
porto as náos que navegam do reino pêra Angola, aonde carregam farinha da terra
(mandioca) de que abunda toda esta capitania em grande cantidade (...)” . Percebe-se indicações-chave neste texto sobre
a economia carioca ao final do século XVI: um estamento militar, uma burguesia
mercantil em estágio embrionário e de uma burocracia incipiente. Uma cidade
onde, certamente, pululavam muitas patacas (reais de oito, moeda da época).
Com o declínio português na Ásia, o
comércio ilícito de prata peruana via Rio da Prata alçou o Rio de Janeiro a um
degrau de relativa importância no comércio com as Índias, pois Portugal ficara
sem o Japão e sofrera rude golpe com a abertura da rota Acapulco-Manilla pelos
espanhóis, agora senhores das Filipinas. No entanto, a mercadoria mais
importante era o escravo: um tripé vantajoso para a elite mercantil carioca era
a exportação para Angola de farinha de mandioca do Recôncavo Fluminense, a
obtenção de escravos africanos e a reexportação dos mesmos para Buenos Aires e
daí para as minas de Potosí. Aos poucos, solidificaria a importância comercial
da cidade fluminense nas redes do império português. O Rio exportava cachaça,
algum alimento (farinha de mandioca, açúcar, fumo) e reexportava tecidos
europeus. Importava marfim e escravos, obtendo algum ouro em pó na África e,
simultaneamente, importava de Portugal tecidos, vinhos, bacalhau, exportando
para lá açúcar. Adquiria tabaco de Salvador onde, de forma ilegal, o fumo de
primeira qualidade era negociado com comerciantes europeus no Golfo da Guiné,
após ser disfarçado como de “terceira qualidade”...
A partir da descoberta de ouro nas Gerais
(final do século XVII e início do século XVIII), intensifica-se o tráfico
negreiro para a extração de ouro e aumento da produção do açúcar fluminense.
Terceiro produtor de açúcar, com pouco mais de 10 mil toneladas por anos em mais de seiscentos
engenhos , o Rio de Janeiro presenciou no período de 1736 a 1810 o trânsito de
uma multidão de escravos no seu porto; cerca de 580 mil. Nos idos de 1730,
embora a cidade tivesse apenas cerca de
30 mil habitantes, havia 17 navios registrados no porto dedicados
exclusivamente ao tráfico de escravos.
EXPORTAÇÕES
(EM REAIS)
|
IMPORTAÇÕES
(EM
REAIS)
|
A
N O
|
R
E G I Ã O
|
254:152$100
|
368:777$390
|
1810
|
Benguela
|
779:708$000
|
933:124$000
|
1811
|
Portugal
|
113:715$336
|
577:966$890
|
1812
|
Índia
|
(
fonte : “O Arcaísmo Como Projeto”, páginas 110 a 113)
|
Tecidos
reexportados pelo RJ após compra externa – para Santos, RS, Benguela e Angola
|
1810-11-12
|
4:387:831$606
|
Escravos
reexportados pelo RJ para Santos e RS
|
1810-11-12
|
500:614$900
|
Açúcar
exportado pelo Rio para Portugal
|
1810-11-12
|
1:913:711$000
|
Reexportações de bens
externos para o mercado interno na comparação
com o açúcar para Portugal no mesmo período
|
Como se pode notar, mesmo sendo uma praça oficialmente
deficitária (tabela 1), as redes de intermediação pulverizam esse aspecto (tabela 2),
gerando significativas receitas para a elite mercantil fluminense. O Rio de Janeiro
mostra-se, de jure, como o eixo vital
de negociações financeiras no Atlântico Sul , transformando esta cidade fluminense
como a principal fonte econômica do império português.
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