quarta-feira, 30 de abril de 2014

História Antiga, Parte 1: a Grécia Pré-Clássica

Resumão da apostila do Gralha. Obs: o que não estiver aí, ainda virá nos próximos capítulos. Esse resumo é para ser estudado com a apostila ao lado, para maiores desembaraços. Abração, galera!




     A Grécia Clássica e suas polis, retratada e documentada pelos tomos de História como nós conhecemos e que os historiadores tomam como base de pesquisa tem em Atenas sua referência básico-primordial; uma referência que nos impede de criar um debate mais preciso sobre como a sociedade greco-clássica de fato se formara em priscas eras. Por exemplo: mesmo no mais aceso do período chamado de “Século de Péricles” (século V a.C.), quando, após as guerras contra os Persas, Atenas chefiara a Liga de Delos que reedificou a cidade-estado em uma das mais belas cidades da Europa e espalhou seu modelo (poléis) político-social por várias partes do Egeu e do Mediterrâneo, haviam cidades-estado que não se pautavam pela poléis ateniense, como Esparta, Tebas e outras pela península grega.
      Essa Grécia Clássica fora fruto das incursões de diversos povos ao longo do tempo. Os micênicos, de origem indo-européia (aqueus), estabeleceram-se na península entre o terceiro e segundo milênio a.C. . Com fundamentos sócio-políticos de matriz oriental, esse povo desenvolvera durante esse período atividades mercantis e uma cultura de pouco viés europeu, dada a sofisticação descoberta nos palácios de Cnossos (elites) e o temperamento ligado ao profano e ritualístico (povo), conforme algumas estátuas de sacerdotisas e o presumível  cotidiano popular nos revela em fontes arqueológicas. Uma excelente pista do mundo aqueu existente na Idade do Bronze pode ser constatada no mais famoso poema de Homero, a “Ilíada”: Tróia sugere-nos o fausto orientalizado da corte de Príamo, Heitor e Páris e as atividades populares na cidade murada da Ásia Menor revela-nos a diferença existente a rotina citadina das populações gregas e a sobriedade marciana das elites destas cidades invasoras (Agamemnon, Ulisses, Menelau, Aquiles). A Guerra de Tróia é, nas entrelinhas, um relato romântico do que fora a posterior substituição do predomínio aqueu pelo dório na maior parte da Grécia de então; os dórios, menos sofisticados, mais agrestes, e que mergulharam a península numa era estritamente tribal, agropecuarista e de clãs que submetiam outros pela força.
     Na “Odisséia” (também de Homero) , o retorno de Ulisses à Ítaca é uma excelente mostra do que fora a herança dórica na futura cultura clássica local. O oikos representa uma comunidade unida sob a força de um guerreiro e seus familiares, companheiros de escol e artífices/artesãos locais que garantem a subsistência secundária, pois o básico – incluindo os escravos – são obtidos através da pilhagem e saque sistemático de vizinhos e mais longínquos. O fato de ser um guerreiro num oikos não significa que este estivesse sob o manto de um privilégio estamental, pois mesmo os guerreiros adotavam fainas e posições cotidianas para o benefício de toda a comunidade, agindo com (e ao lado de) todos numa mesma função. A participação do indivíduo no dia-a-dia de um oikos contava muito mais do que a sua presumida posição de clã, e nisso até mesmo os escravos estavam bem guardados pelo sistema vigente. É difícil identificar, nos textos homéricos, a presença de homens livres em pequenos trechos de terra próprios, mas percebe-se um tipo denominado demiurgo, encaixável na categoria de artesão/comerciante supracitado.
      Como na maioria das categorias estamentais dos grupos sócio-políticos da época,  o grego daqueles tempos tratava com atenção secundária ao trabalhador manual, ofertando à preferência e preponderância àqueles que se digladiavam nos campos de batalha ou no saque-pilhagem de outras tribos-nações mais fracas. A ponto de formatar seu panteão com base nesses atributos terrenos: os que se impunham pela força-conquista estão sempre num patamar superior àquelas divindades que cuidam de abastecer, curar ou mesmo culturalizar a espécie dita humana. Mesmo um oikos autossuficiente no que tangia à sua sobrevivência, não guardava destaque nas posições de manutenção da comunidade ou em funções de apoio, mas em misteres belicosos, como a forja de metais ou o controle sobre os escravos.
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     Como percebemos nas páginas 24 e 25 com a autora Maria Beatriz Florenzano, é muito complexa a compreensão do desenvolvimento da polis. Entre as suposições demonstradas nessas páginas, a que mais me chamou a atenção foi a suposição baseada na geografia local: terra de vales, escarpas, montanhas e um solo que não se destaca exatamente por ser muito fértil, houve a necessidade das diversas comunidades coexistirem de forma bastante uniforme no sentido da melhor compreensão política e social, mesmo sendo cidades-estado com prioridades básicas desiguais entre si. Variações do grego falado na época (aqueu, dório, eólio, etc.) e suas origens indo-européias firmavam sutis diferenciações em seus modos de viver. O estatuto de cidadania vai se desenhando a partir de uma idéia – e depois da prática -   de comunidade igualitária e, por sequência histórica, de um arremedo de democracia.  O cidadão como membro participante da sociedade vai tomando corpo aos poucos e, com o seu progressivo envolvimento com as tarefas políticas, o trabalho em si passa a ser atributo exclusivo dos escravos. A partir de então, com a evolução de um estado de pré-direito para o de direito, as leis precisariam de codificação, tornando-se públicas, participativas, não mais  monopólio de um estamento aristocrático, mas de todos os estamentos.
    Numa geografia de pobres e poucas terras produtivas, os que viviam da terra penavam para conseguir o básico da sobrevivência; pequenos proprietários endividados recorriam a um expediente chamado hectomoro: entregando como pagamento uma sexta parte de sua colheita, o devedor obtinha empréstimos com os mais ricos, sendo que em caso de inadimplência entregava-se ao credor para ser escravizado ou para trabalhar para ele como se fosse. Ao longo do tempo, as poucas terras produtivas foram enfeixadas pelos mais abastados, restando ao menos favorecidos o recurso que ajudou a difundir o modo grego de viver ao longo do Mediterrâneo e mais além: a colonização. Muitas vezes com recursos do Estado, espalhavam comunidades gregas pelo litoral deste mar e algumas, inclusive, mais  ao interior. Notadamente, Itália do Sul e a ilha da Sicília;  ali, reproduziam as polis e o modo poléis da Grécia na íntegra. A Apoikia era um tipo de colônia autárquica, subjugava a população local mas não a escravizava, e sim estabeleciam laços servis para que todos em conjunto sobrevivessem ali. Já o Emporion era de caráter comercial, colônias estabelecidas pelas cidades-estado gregas afim de prover suas metrópoles com o necessário, eram (na acepção grega daquela empreitada) “gregos em troca com bárbaros”.


Maria Beatriz B. Florenzano é autora de "O Mundo Antigo: Economia e Sociedade", base deste resumo de apostila.