segunda-feira, 30 de abril de 2012

As Estruturas na Alta Idade Média - O Mundo Carolíngio

Resumo da próxima matéria do Prof. Alexandre Mérida - vamos lá, rumo ao canudo!




LIQUIDIFICANDO E PENEIRANDO
HISTÓRIA MEDIEVAL
O MUNDO CAROLÍNGIO



MENDONÇA, Sonia Regina de. As Estruturas na Alta Idade Média Ocidental. O Mundo Carolíngio. Rio de Janeiro: Editora Brasiliense, 1985.


Resumido e ilustrado livremente por: Jorge Luiz da Silva Alves, 3º período, UCAM/Santa Cruz (noite).




FORMAS DE PRODUÇÃO


Do século V ao século VIII, a Europa Ocidental atravessou um processo de regionalização e fragmentação de todo arcabouço do mundo romano; apenas a Igreja, por sua amálgama entre os mundos bárbaro (ou transdanubiano) e romano, é que preservou a idéia do que seria um poder universal num panorama totalmente descentralizado. Enquanto Roma constituía uma nova forma de produção não escravista no campo com a ampliação das vilas e a fixação da população dispersa nos domínios, os bárbaros contribuíram para acentuar o processo supracitado ao recriar o campesinato livre.
Constituindo aproximadamente cinco por cento da população do Ocidente clássico, os germanos que produziam em seus alódios¹ tiveram constrangimentos para se pôr sob a proteção de um senhor dominial. Detentor de uma trecho daquelas terras, equiparavam-se aos colonos de origem romana e aos escravos; e como não tinham, esses pequenos proprietários, condições de resistir às grandes glebas senhoriais, acabavam absorvidos por estas. Lentamente, a gestação do Feudalismo acontecia na fusão de três células: a grande propriedade, a reserva comunal e a pequena exploração (tenência), resultando no domínio. E, de igual modo, escravos e livres fundiam-se para criar o servo.
O domínio é identificado à grande/enorme propriedade rural e muitas vezes interpretava-se como sendo o senhor de um grande número de vilas. Porém, aqui interpretaremos ao nível de cada vila o pensamento sobre domínio. Algo entre 200 a 2000 hectares, ou daí para cima. O traço característico de um domínio carolíngio não era tanto a sua dimensão mas a estrutura de seu funcionamento, a forma como era explorado e a distribuição interna de suas partes entre o senhor e os camponeses. Dividia-se em duas partes: a reserva senhorial (mansus indominicatum) e as tenências camponesas, também chamadas de mansos. A reserva senhorial consistia na maior e melhor fração da terra dominial, compreendendo três espaços bem demarcados: terras cultiváveis, a corte e a terra inculta. As primeiras eram os campos de exploração direta do proprietário e englobavam também as vinhas, os prados e os solos silvestres e baldios (importantes para a pastagem do gado menor e na obtenção de esterco). Esta reserva, por seu turno, organizava-se ao redor da corte, o centro de exploração da terra arável. Celeiros, cocheiras, estábulos, cozinha, gineceus (oficinas artesanais), moinhos e capela compunha os anexos desta seção. A maior parte da reserva senhorial compunha-se de bosques, o elemento complementar da economia agrária da Alta Idade Média, pois dali – a área de caça senhorial – saíam os couros e peles que substituíam os tecidos e onde se cevava o gado miúdo.

O conjunto das explorações camponesas constituíam-se nos dois terços restantes de um domínio, e essas tenências tinham caráter hereditário entre os seus possuidores. Era necessário tal recurso distributivo por parte do senhorio porque era preciso fazer frente à estagnação demográfica existente desde a crise no Império Romano, que desequilibrava a relação entre a mão-de-obra disponível e a necessária; e o regime agrário deveria se organizar visando a disponibilidade imediata de uma quantidade elevada de trabalhadores capazes de compensar até mesmo os efeitos do esgotamento progressivo da escravidão. Tornava-se mais vantajoso para o detentor de um domínio estabelecer o escravo – elemento cada vez mais residual na realidade embrionária do feudalismo – numa tenência, da qual ele tiraria seu próprio sustento ou, ainda, requisitar o grande número de jornadas de trabalho (corvéias) que a reserva exigia dos camponeses livres possuidores de mansos. Desta forma, a realidade do regime dominial era de fixar um amplo reservatório de mão-de-obra para o cultivo do mansus indominicatum, fossem quem fossem.
Embora a definição teórica de tenência significasse uma unidade de exploração capaz de satisfazer as necessidades de um casal de cultivadores, na prática o manso apresentava-se sob diferentes formas dentro de um mesmo domínio; distinguia-se, basicamente, de acordo com seu estatuto legal, ou seja, o manso livre do manso servil – isto é, sob a condição jurídica de seus detentores, homens livres ou escravos. O manso livre, em princípio, deveria ser maior do que o servil e era gravado com obrigações menos pesadas para o camponês que o detinha, como por exemplo, serviços de transporte e prestações ocasionais na reserva senhorial. O manso servil, ao contrário, impunha para o seu detentor (um escravo estabelecido) uma série de tarefas mais braçais e de caráter permanente junto à reserva senhorial. Mas, independente disso, todos os mansos eram dependentes dum senhor que deles esperava, anualmente, uma renda fixa ou censo, o símbolo do aluguel da fração de terra cultivada.
Até o século VIII tanto o camponês livre quanto o escravo estabelecido eram os emprestadores de suas qualidades às tenências que cultivavam. Mas, a partir daí, a situação invertera-se: mansos livres começaram a ser ocupados por escravos e tenências servis começavam a ser ocupadas por trabalhadores livres, graças aos senhores que, indistintamente, passaram a impor obrigações semelhantes para todas as tenências de uma mesma categoria, desconsiderando a condição jurídica de seu ocupante ou a capacidade produtiva e dimensões territoriais dos mansos; a motivação por trás dessa miscelânea é que o número de corvéias (jornadas de trabalho) aumentou consideravelmente, beneficiando a fonte dos bens necessários à manutenção tanto do senhor e sua casa quanto de seus companheiros de prestígio. Com essa inversão, nivelara-se a população rural, sendo a terra a definidora do estatuto dos homens: a necessidade do consumo senhorial que definira os parâmetros da exploração econômica.



A economia desta época caracterizava-se pelo desperdício: a dinâmica do funcionamento do organismo senhorial pressupunha grandes áreas de terra e mão-de-obra para a obtenção de medíocres excedentes de produção. Como estes eram apropriados pela aristocracia dominante, permitiam-lhe um nível de vida relativamente elevado, medido pela maior ou menor auto-suficiência da propriedade rural, transformada num símbolo de honra, prestígio e poder.
Mas esse domínio clássico ocidental foi tão clássico assim? Dentro dos limites do Império Carolíngio (onde nascera e se difundira), o domínio e sua dinâmica numérica e geográfica encontraram campo fértil para se impor como padrão econômico; mas em áreas afastadas deste império não chegara sequer a se enraizar, como na Escandinávia ou nas regiões do Mar do Norte. Nas províncias germânicas carolíngias, a estrutura dominial fora menos rígida talvez por conta da dispersão e distância entre os mansos livres que estes pagavam apenas o censo fixo anual, sem corvéias. De igual forma, verificara-se na Lombardia, Flandres, e oeste da Gália. A predominância dos mansos servis distribuídos ao redor da corte implicou a falência dos serviços devidos pelos camponeses livres à reserva, uma vez que esta dispunha de mão-de-obra suficiente. Hoje, parece não haver mais dúvidas de que o regime dominial não cobrira toda a área rural do Ocidente, levando muitos medievalistas à conclusão de que o domínio clássico não configurava-se como regra, e sim, exceção.





SOCIEDADE

Com a instalação progressiva nas terras romano-ocidentais, os bárbaros transdanubianos foram responsáveis pela criação de inúmeros reinos sobre as ruínas políticas do antigo império. Apesar de suas diversidades, todos tinham por fundamento a noção de fidelidade pessoal entre o chefe do bando armado (vulgarmente chamado de rei) e o seu séquito de guerreiros. Essencialmente militar e espontânea, a solidariedade germânica era incompatível com a idéia de Estado ou bem público, e a concepção de reino fundia-se com o raciocínio bárbaro de que este era a propriedade particular do soberano, usando-o como bem lhe aprouvesse.
A solidariedade era garantida pela prestação de um juramento de fidelidade (ou recomendação) através da qual os súditos se incorporavam à clientela em torno do rei. Esse vínculo era de obrigação mútua: aos fiéis (vassalos), cabia a obrigação do serviço das armas; ao soberano (suserano), o dever de proteger e auxiliar sua fiel clientela, propiciando-lhe, sobretudo, os meios de seu sustento. Desenvolvera-se, desde então, a prática da concessão do benefício, isto é, qualquer bem (mas quase sempre a terra) doado em recompensa pelos serviços prestados. Assim, o poder militar do rei saía fortalecido.




Havia uma contradição neste sistema: quanto mais vassalos pretendesse possuir o soberano, maior deveria ser o seu patrimônio, em face do oneroso sustento de seus seguidores, daí a necessidade da realização de novas conquistas. O círculo vicioso oriundo desta contradição gerava duas consequências: a mudança da essência do juramento – deslocada da lealdade ao chefe para o interesse na terra a ser obtida -, e a fragmentação inevitável do reino; neste último caso, ao ceder as terras, o rei cedia também parte do seu direito sobre a população local, e, dependendo de cada beneficiado, a autoridade real era posta em plano secundário pela autoridade local. O poder público desgastava-se lentamente e, no Império Carolíngio (onde essa relação suserano-vassálica tivera maior incidência), isso seria fatal para a manutenção da unidade territorial a partir do século IX.
No tocante ao trabalho nos primórdios do Feudalismo (século V ao VIII/IX), consolidara-se em definitivo a servilização da base estamental. Uma vez que era impossível à realeza manipular diretamente o campesinato (por obra dessas relações suserano-vassálicas, só mesmo as tenências nos próprios domínios reais eram passíveis de controle), a concessão de benefícios aos vassalos isolava a monarquia em relação ao mundo rural, reforçando ainda mais o poder dos senhores sobre a população produtora. Mas foi graças a isso que trabalhadores, livres ou escravos, tiveram sua condição social nivelada.




Numa análise inicial, parece que a nivelação fora gerada pela confusão entre os estatutos do homem livre e do escravo. Mas como a diferença entre eles era claramente estigmatizada pelo pagamento do capitagium pelo escravo (imposto de obrigação congênita transmitida por linha materna, de geração em geração), percebera-se, por fim, que a confusão se dera entre os estatutos da terra, que se tornara o fundamento de toda a sociedade. A exploração do produtor direto não se dava mais por sua situação legal mas pela do manso que cultivava, o que igualou a cobrança de encargos por igual (livres ou servis), independente do camponês que a ocupasse.
Veja como se deu esse nivelamento; em princípio, é importante distinguir que o reforço da dependência camponesa repercutiu de forma diferente sobre duas categorias de homens livres que existiam até então, os pagensi (francos) e os colonos.
Os pagensi ou pequenos proprietários eram os únicos cultivadores com total liberdade jurídica e econômica em pleno gozo da propriedade de sua terra e instrumentos de trabalho. Como francos, podiam ser ouvidos e julgados nos tribunais públicos. E como eram consanguíneos dos transdanubianos, deviam à realeza as obrigações elementares de todo cidadão: participação em tribunais públicos de sua região e a prestação de serviço militar (As Invasões Bárbaras) . Mas em função da disparidade existente entre sua condição econômica e sua condição jurídica, que lhes gerava encargos tão pesados, os pagensi achavam-se em vias de extinção; mesmo com todo esforço que os governantes carolíngios fizeram para evitá-lo, a pressão feita pelos grandes proprietários terminou por agregá-los à servidão nascente.



Os colonos, por seu turno, definiam-se como o homem juridicamente livre mas não proprietário, frutos da desagregação do império romano com a fuga dos citadinos para o campo em sua submissão aos grandes proprietários. Usufrutário permanente de uma tenência num domínio, sua dependência com relação ao senhor era total, pois não mais haviam mecanismos legais para protegê-los, e com isso, a mediação entre eles e o Estado se fazia através do grande proprietário. Quando homens livres, os colonos também deviam as obrigações oriundas da antiga cidadania. Só que era comum os senhores subtraírem os deveres militares de seus colonos, substituindo por prestações de serviço (corvéias) e requisições de gênero (hostilicum). A consequência desta prática, numa sociedade protagonizada por guerreiros, foi o aviltamento da condição de homens livres, que se tornavam uma presa fácil de coação dos que detinham o monopólio das armas.
Um conjunto de fatores explicariam o declínio e a superação da escravidão: por um lado, as conquistas carolíngias, definindo as fronteiras do império, diminuiu a possibilidade do abastecimento de mão-de-obra; por outro lado, a cristianização do Ocidente gerou uma condenação ética da escravização dos povos agora batizados (mesmo que à força). Mas o argumento mais forte quanto à questão foi a própria organização do domínio. O alto custo de manutenção de um contingente que permanecia ocioso fora dos períodos de safra, obrigou os senhores a estabelecer seus escravos em lotes da reserva senhorial, mesmo sem tê-los libertado. Garantindo as condições de reprodução da família escrava, livrava-se também dos gastos com a vigilância e sustento tipicamente de cativeiro, obrigando-os a produzir rendas in natura e trabalho gratuito na reserva a qualquer momento, durante o ano todo. Na prática, à exceção do capitagium, todos os encargos característicos da escravidão desapareceram, havendo uma melhoria na condição social de fato – mas não de direito, pois ele continuava a ser um bem móvel, parte integrante do domínio que, como tal, podia ser vendido ou doado com ele.
O deterioramento da condição social do homem livre e o abrandamento da condição do escravo levram a fusão desses grupos numa só categoria de dependentes, cujos têrmos designativos – colono e pagensi – desapareceriam dos textos a partir do século IX, com os últimos momentos do mundo carolíngio, substituído pelo uso vulgarizado da palavra servus.



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Religiosidade popular no Brasil Colônia - resenha




Mais um texto 'liquidificado" para melhor compreensão no grupo de estudo desta semana - até amanhã, companheiros de sufoco!









LIQUIDIFICANDO E PENEIRANDO
HISTÓRIA DO BRASIL COLÔNIA
RELIGIOSIDADE POPULAR NA COLÔNIA


MELO E SOUZA, Laura. O Diabo e a Terra de Santa Cruz. São Paulo: Cia das Letras, 1986

Resenhado por: Jorge Luiz da Silva Alves (3º período, UCAM/Santa Cruz)


     A organização do catolicismo no Brasil colonial fora forjada pelos jesuítas, incentivado e sustentado pelo sistema do Padroado¹. Com esse beneplácito papal para os reinos ibéricos desde antes do descobrimento, o catolicismo colonial revestira de poder religioso as autoridades reinóis nos trópicos, numa proveitosa interseção para ambos os lados: a Inquisição assumia ares de polícia quase política na privacidade popular e o governo da colônia decidia os caminhos da Sé escolhendo e dirigindo os padres e suas paróquias.
     Com a atuação dos capelães de engenho ao lado dos senhores, Gilberto Freyre descuidou-se do papel do estado e enfatizou o das famílias no processo da colonização, denominando como “catolicismo de família”, ou seja, 'o capelão subordinado ao pater familiæs'. Assim, a religiosidade subordinar-se-ia à força aglutinadora e organizatória dos engenhos de açúcar, integrando o triângulo da Casa Grande-Senzala-Capela. O familismo explicaria, segundo o autor, a acentuada afetividade e maior intimidade com a simbologia católica; porém, o mesmo relegaria as manifestações indígenas à mata fechada e as africanas à insalubridade da senzala. Ao descaso do Concílio de Trento² no primeiro século de existência, é com o referido familismo que Freyre preenche esse vácuo religioso na Terra de Santa Cruz, pois o Concílio não legara qualquer dos seus triunfos na cristandade católica da Europa meridional (Península Ibérica e Península Itálica) no universo ultramarino.
     Mesmo na Europa, a uniformidade tridentina demorara para se estabelecer; somente no século XVIII é que os bispos setecentistas “descobriram um povo rural que frequentemente não conhecia os elementos básicos do cristianismo”. Keith Thomas chamava isso de “religiosidade inortodoxa”. Havia um esforço enorme por parte do catolicismo europeu da época, para separar o cristianismo das camadas populares dos muitos veios de paganismo ainda existentes, do profundo desconhecimento dos dogmas, a participação na liturgia sem a compreensão do sentido dos sacramentos e da própria missa. Delineava-se um confuso apego às missas e procissões impregnado de magismo, afeito antes às imagens do que à coisa fugurada, mais ao aspecto externo do que ao espiritual.
     Eivado de paganismos e de “imperfeições”, o catolicismo de origem européia praticado por esses fiéis que mal distinguiam o mal do natural, a imagem da coisa figurada, o visível do invisível, continuaria, na colônia, a se mesclar com elementos estranhos a ele, multifacetados com a religião africana e às práticas dos indígenas; a originalidade da cristandade brasileira residiria, portanto, numa espécie de “mestiçagem espiritual”. Traços católicos, negros, indígenas e até judaicos (os cavaleiros entre duas fés: considerado judeu pelos cristãos e cristão pelos judeus que vêem-nos afastando-se de seu credo original por questão de sobrevivência) misturavam-se na colônia americana, tecendo uma religião sincrética e especificamente colonial, repetindo-se aqui a história da cristanização do Ocidente no nadir romano e no alvorecer feudal.

(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Padroado_portugu%C3%AAs
(2) http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento

sábado, 21 de abril de 2012

A conquista e a colonização da Amazônia do século XVI ao XVIII




Mais um link para REFERÊNCIA sobre momentos do Brasil Colônia: A Conquista e Colonização da Amazônia, numa abordagem rápida que serve como referência para outros links mais técnicos e autores mais detalhados. Uma bússola inestimável para quem quiser se aprofundar nas questões da formação do Brasil durante o período colonial.
Abraços, bom feriado e moderação sempre, galera!


http://pt.scribd.com/doc/6926122/A-Conquista-e-colonizacao-da-Amazonia

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mudança de dia para a reunião de estudo







Hoje, sexta-feira, 20 abr 2012, não haverá estudo na biblioteca. Na próxima terça-feira, 24 abr 2012, para quem quiser, estaremos na biblioteca após a aula de Brasil-Colônia do 3º período, a partir das 20:30 hs, e com a apostila "Religiosidade na colônia" devidamente resumida - inclusive neste blog.


Abraço, bom feriado - e moderação, galera! Sáude é o que interessa. 

terça-feira, 17 de abril de 2012

Os Dez Dias que Abalaram O Mundo - John Reed







A biografia do único norte-americano que teve honras de herói do socialismo soviético, o escritor John Silas Reed, autor "Os Dez Dias que Abalaram O Mundo", uma narrativa forte, dinâmica e crua dos dez dias da Revolução Russa de 1917.


Leitura obrigatória para qualquer historiador, licenciado ou bacharel. Memória viva dos eventos que mudaram a face do planeta, mostrando dramaticamente de forma quase instantânea no início do século passado, a mudança dos conceitos sobre os modos de produção, tão explanados por Karl Marx.


Boa leitura, amigos historiadores!


http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Reed


http://www.marxists.org/archive/reed/

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Liquidificando e Peneirando - História Medieval







Resumão da apostila do Jacques Le Goff, sobre a instalação dos bárbaros no Ocidente Romano - transição da Antiguidade para o Medievalismo.


Até lá, povo da História!






LIQUIDIFICANDO E PENEIRANDO
A Instalação dos Bárbaros - Jacques Le Goff

por: Jorge Luiz da Silva Alves



=> (pág. 27) O Ocidente medieval nasceu sobre as ruínas do mundo romano. Nelas encontrou ao mesmo tempo, apoios e desvantagens. Roma foi seu alimento e foi a sua paralisia.

=> (pág. 28) A grande crise do século III minou o edifício. A unidade do mundo romano desfez-se e o seu coração – Roma e a Itália – deixou de irrigar os membros, que procuraram viver com vida própria: as províncias emanciparam-se e passaram a ser, por sua vez, conquistadoras. O ouro que paga as importações do luxo foge para o Leste, produtor e intermediário, cujos mercadores judeus e sírios monopolizam o grande comércio. As cidades do Ocidente entram em anemia e as do Oriente prosperam.

=> (pág. 29) O Cristianismo é um falso aliado de Roma. Os imperadores julgam conjurar o destino abandonando os deuses tutelares, que falharam, pelo Deus novo dos cristãos. A renovação constantiniana parece justificar todas as esperanças: a paz e a prosperidade parecem estar de volta sob a égide de Cristo. Mas, para a Igreja nascente, as estruturas romanas são, simplesmente, um quadro onde tomar forma, um alicerce onde se apoiar um instrumento para se afirmar.

=> (pág. 30-31) As causas das invasões importam-nos pouco. Os aspectos dessas invasões é que são mais importantes. Os invasores eram fugitivos pressionados por outros, mais fortes ou mais cruéis que eles. A sua crueldade era muitas vezes a do desespero, em especial quando Roma lhes recusavam o abrigo que eles, tantas vezes pacificamente lhes pediam. Se os Godos pegaram em armas contra os romanos em 378, foi porque tinham sido confinados em um território exíguo e sem recursos, onde os romanos tratavam-nos como animais, abusando deles como se escravos fossem, ou pior coisa.

=> (pág 36) Em sua caminhada desesperada pelo moribundo império, os bárbaros se beneficiaram da cumplicidade ativa ou passiva da massa da população romana. As camadas populares eram cada vez mais massacradas por uma minoria de ricos e poderosos, e isso explica o êxito das invasões bárbaras. Para não perecer à perseguição pública vão procurar entre os Bárbaros a humanidade negada pelos Romanos. E terminam por gostar muito mais de viver livres sob a aparência da escravidão bárbara do que escravos sob o fictício rótulo de cidadão romano.

=> (pág 38-39) Os Bárbaros que se instalaram no Império Romano no século V não eram mais os selvagens de trezentos anos antes; os caminhos percorridos tinham-nos levado a contactar com culturas e civilizações em que recolheram costumes, artes e técnicas. E outro fato de capitaol importância transformara a face dos invasores. Embora uma parte mantivesse-se pagã, a outra cristianizara-se. Mas por um curioso acaso que viria a ser carregado de consequências, esses bárbaros convertidos (ostrogodos, visigodos, burgúndios, vândalos e, mais tarde, lombardos) conerteram-se ao arianismo, uma forma de doutrina cristã julgada herética pelo Concílio de Nicéia.O que poderia ser um laço religioso foi, pelo contrário, um tema de discórdia e gerou ásperas lutas entre os Bárbaros arianos e os Romanos, Católicos.

=> (pág 48-49-50-51) O embrionário mundo medieval resulta do encontro e da fusão de dois mundos, de uma convergência das estruturas romanas e das estruturas bárbaras em transformação. O mundo romano, desde o século III estava a afastar-se de si mesmo. O comércio (a princípio, um comércio interno, entre províncias) estava em declínio. As cidades destruídas pela fúria bárbara, definhavam também sem a rede de abastecimento. Os citadinos abandonam-as pelas proximidades das esparsas zonas de produção. E assim, a fisionomia do Ocidente Medieval se esboçava, gradualmente: uma atomização em células viradas sobre si próprias e separadas umas das outras por “desertos” - florestas, gândaras e baldios. A ruralização é, ao mesmo tempo, e em primeiro lugar, um fato social que medeia a face da sociedade medieval. A desorganização de algumas trocas peseudocomerciais nas cidades arrasadas faz aumentar a fome, e a fome leva as massas para os campos e submete-as à servidão perante os dadores de pão, os grandes proprietários. A moeda de ouro deixou de circular e, quando é cunhada pelos soberanos merovíngios (francos), é mais por uma questão de prestígio, de vontade de exercício de uma prerrogativa soberana do que necessidade econômica.

=> (pág 52-53-55) A fuga a certos ofícios e a mobilidade da (volumosa) mão-de-obra rural tinham obrigado os imperadores do Baixo Império a declarar obrigatoriamente hereditárias determinadas profissões e tinham estimulado os grandes proprietários a vincular à terra os colonos destinados a substituir os escravos que rareavam. Era preciso conservar no seu lugar os homens necessários a uma economia que já não se alimentava com fornecimentos externos e ia cristalizando localmente.
E a Cristandade Ocidental formará o cimento necessário a este novo universo, transformando o desejo de fugir desta nova realidade estacionária num pecado capital. Tal Pai Tal Filho – esta será a lei da Idade Média Ocidental, herdada do Baixo Império Romano. O ideal estará numa sociedade de camponeses tenentes (de manere, ficar). Sociedade estratificada e compartamentada, horizontalmente.
Os invasores bárbaros vieram infiltrar-se à força nesses estratos sem grandes dificuldades. Afinal, repetindo, os invasores eram sedentários em fuga. Substituiram, à definição de Marc Bloch, o “nomadismo dos homens” pelo “nomadismo dos campos”, praticando uma agricultura seminômade, praticando a rotação dos afolhamentos, cultivando em queimadas e deslocando os seus cultivos temporários no interior de um determinado perímetro por desbravamentos marginais.
O apego do pequeno camponês bárbaro ao seu alódio¹, era, certamente, tanto maior quanto é fato que ele fazia questão de afirmar a sua independência – atitude normal por parte de um colono instalado num país conquistado e que pretende mostrar a sua superioridade sobre a massa indígena sujeita à servidão aos grandes proprietários (romanos pobres das cidades reduzidos à servidão de gleba). Segundo ainda Marc Bloch, “ a ação de uma civilização sobre outra não se mede, necessariamente, pela relação numérica dos elementos em presença”. Mas o desejo dos povos bárbaros – principalmente depois que se dividiram em pequenos grupos instalados no territótio romano - de não perder as tradições e os costumes a que estavam ligados foi singularmente reforçado pelo receio de ver-se numericamente abafados pelas antigas populações. Afinal, os Bárbaros, depois de sua instalação no Ocidente Romano, representavam 5% da população total.













quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Nascimento da América Portuguesa no contexto imperial lusitano







Outra excelente - e atual - fonte historiográfica sobre o descobrimento e a dinâmica do sistema colonial português no Brasil, na abordagem da doutora em História da PUC, Lucília Siqueira. Vale a pena guardar para o futuro.


Bom estudo, galera!


http://www.scielo.br/pdf/his/v28n1/04.pdf

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Diferença entre escravidão e servidão


Escravidão & Servidão

servidão é o status legal e econômico dos camponeses ("servos") no feudalismo, especialmente no âmbito do sistema econômico da "senhoria" (direitos feudais sobre a terra). Os servos são trabalhadores rurais que estão vinculados à terra, formando a classe social mais baixa da sociedade feudal. À diferença dos escravos, os servos não eram propriedade de ninguém e não podiam ser vendidos, pois não eram como escravos, que eram propriedade dos donos. A servidão implica o trabalho forçado dos servos nos campos dos senhores de terras, em troca de proteção e do direito arrendar terras para subsistência. Ademais do trabalho na terra, os servos executavam diversos trabalhos relacionados com agricultura, como silviculturatransporte (por terra e por rio), artesanato e mesmomanufatura.
A servidão evoluiu a partir da estrutura fundiária do Baixo Império Romano, caracterizada pela existência delatifúndios nos quais a mão-de-obra era formada por arrendatários que trabalhavam nos campos do proprietário e recebiam um lote de terra para a sua subsistência, mediante aluguel. Com a instabilidade do Império nos séculos III e IV d.C., diversos pequenos proprietários passaram a vender suas terras para os grandes senhores de terras e a empregar-se nos latifúndios como arrendatários, em troca de proteção.
A servidão disseminou-se na Europa no século X e tornou-se a forma predominante de organização do trabalho agrário europeu durante toda a Idade Média. Sobreviveu na Inglaterra até o século XVII, na França até a Revolução Francesa (1789) e, na maioria dos países europeus, até o início do século XIX. Na Rússia, a servidão durou até1861, tendo sido o último país do mundo a libertar seus servos.
A servidão praticamente não existiu em Portugal, devido à existência de terra livre abundante nas regiões conquistadas aos árabes no sul do país. A fuga dos camponeses para essas terras — cujos novos senhores, para atrair trabalhadores, davam boas condições de trabalho — obrigou a melhoria das condiçőes também no norte, impedindo o desenvolvimento da servidão da gleba.


escravidão (denominada também escravismoescravagismo e escravatura) é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força. Em algumas sociedades, desde os tempos mais remotos, os escravos eram legalmente definidos como uma mercadoria. Os preços variavam conforme as condições físicas, habilidades profissionais, a idade, a procedência e o destino.
O dono ou comerciante pode comprar, vender, dar ou trocar por uma dívida, sem que o escravo possa exercer qualquer direito e objeção pessoal ou legal, mas isso não é regra. Não era em todas as sociedades que o escravo era visto como mercadoria: na Idade Antiga, haja vista que os escravos de Esparta, os hilotas, não podiam ser vendidos, trocados ou comprados, isto pois ele eram propriedade do Estado espartano, que podia conceder a proprietários o direito de uso de alguns hilotas; mas eles não eram propriedade particular, não eram pertencentes a alguém, o Estado que tinha poder sobre eles. A escravidão da era moderna está baseada num forte preconceito racial, segundo o qual o grupo étnico ao qual pertence o comerciante é considerado superior, embora já na Antiguidade as diferenças raciais fossem bastante exaltadas entre os povos escravizadores, principalmente quando havia fortes disparidades fenotípicas. Na antiguidade também foi comum a escravização de povos conquistados em guerras entre nações. Enquanto modo de produção, a escravidão assenta na exploração do trabalho forçado da mão-de-obra escrava. Os senhores alimentam os seus escravos e apropriam-se do produto restante do trabalho destes.




http://sociologiaeducao.blogspot.com.br/2011/05/escravidao-servidao.html

domingo, 1 de abril de 2012

Aristocratas versus Burgueses - Raciocinando a respeito









Um apanhado da apostila da última segunda-feira, e duas tabelas "linkando" assuntos que se completam. Espero que tenha contribuído com algo, amigos - abraço.







A r i s t o c r a t a s v e r s u s B u r g u e s e s
(Raciocinando a respeito)

Por: Jorge Luiz da Silva Alves - 3º período História (Noite)/ UCAM Santa Cruz






F R A N Ç A
ABSOLUTISTA
(SÉCULO XVIII)


F u n ç õ e s
Clero (alto)
Nobreza
P o v o
Religiosidade
Ensino
Assistencialismo
A r m a s
Profissionais liberais
C o r t e
Trabalhos braçais
Burguesia(atv. $$)


Privilégios
e
Rendimentos
Rendas (Rei)
Isenção de impostos
Isenção Sv Militar
Dízimo
Tribunais próprios
Isenção de impostos
subsídios
Rendas (rei/camponeses)
Tratamentos especiais
Indumentária


N E N H U M



INTRODUÇÃO => O consenso ainda está longe de ser alcançado. Se os especialistas que consagraram suas vidas à história francesa não conseguem nem mesmo um pouco de concordância, passando um pelo outro inadvertidamente, podemos indagar o que os amadores poderão esperar de tudo isso.
Em têrmos legais: o Antigo Regime era dominado pelos dois primeiros Estados, o clero e a nobreza; na estrutura feudal que vingava na França até fins do século XVIII, a noção de riqueza da terra era um anacronismo num panorama onde instituições capitalistas já vingavam no campo, o desenvolvimento do comércio e da indústria forjara uma dinâmica classe, a burguesia. Esta classe não toleraria indefinidamente a sua posição subordinada; a Revolução de 1789restaurou a harmonia entre o fato e a lei.
O que tornou (segundo Marx) a Revolução Francesa tão específica foi a sua velocidade, violencia e abrangência. E esse radicalismo devera-se a dois processos inter-relacionados: o primeiro, a ação de retaguarda sustentada pelos privilegiados e seus alidos estrangeiros; e em segundo, a ajuda crucial que os burgueses, essencialmente tímidos, recebiam das massas urbanas e dos camponeses. “Não existiram três revoluções em 1789, mas apenas uma, burguesa e liberal, com apoio popular, principalmente camponês” (Albert Soboul). A burguesia podia até falar para a Humanidade, mas seus objetivos estavam estreitamente circunscritos. E foi somente em 1830, com a Revolução de julho, que a burguesia francesa conquistou a segurança, sem precisar representar alguém, a não ser ela mesma.

Pois é: foi contra essa “interpretação clássica” (denominação de Soboul) que os revisionistas lançaram uma série de ataques.


Consequentemente, o primeiro alvo dos revisionistas foi a natureza da transformação social e econômica ocorrida no século XVIII. O que se questiona é se a expansão sócio-econômica tenha intensificado o antagonismo entre nobreza e burguesia.
Foi provado que muitos empresários mais progressistas eram nobres. A maioria dos burgueses mostrava-se positivamente tímida, preferindo investir seu capital em terra, domínios senhoriais, cargos venais e ações do governo. Longe de procurar combater os nobres, o mais intenso desejo de todo bougeois gentilhomme era o de se juntar a eles. Como já fora visto em outras apostilas (Paris no Tempo do Rei Sol, Cap. IV, 'A Vida nos Ofícios', pág 81, 2º par.), muitos cargos enobrecedores estavam à venda que qualquer um dotado de fundos suficientes podia operar a transação. A consequência é que a nobreza francesa ficou muito numerosa. Longe de ser uma casta fechada, a nobreza francesa era uma elite aberta. Pois o Absolutismo francês dera tanto poder à realeza que os nobres precisavam de todo tipo de renda possível; e com isso, barganhavam tudo que fosse-lhes de valia, que fosse do interesse dos subalternos estamentais. A “reação aristocrática” foi um mito.
Os revisionistas salientam também a heterogeneidade da nobreza e da burguesia. O farto acesso aos escalões da nobreza por burgueses terminou unificando por opulência e capacidades os superiores de cada lado numa elite singular, denominada de “os notáveis”. Partindo desta premissa, pergunta-se por quê o sistema ruiu se havia uma harmonia entre os postos de liderança estamentais?
Duas crises surgiram no final da década de 1780:
A primeira, política: À Guerra de Independência Americana, seguira-se a bancarrota financeira da monarquia e o colapso do governo, no verão de 1788; os Estados-Gerais foram convocados e, a partir daí, todo processo revolucionário teve início, com a recusa do Terceiro Estado em se reunir para a votação por ordens. A segunda, econômica, originou-se mais imediatamente do fracasso geral da colheita de 1788, mas com origens mais remotas na pressão demográfica e na recessão iniciada na década de 1770. Foi da fusão dessas duas crises na primavera e no verão de 1789 que possibilitou que a massa de descontentes se tornasse crítica e convertesse a crise numa revolução.
Não foi exatamente uma luta de classes, aristocratas versus burgueses; foi, sim, uma luta pelo poder. O destino que tentavam criar para a França certamente estava talhado para se adequar às necessidades da burguesia, mas teria fornecido um feitio igualmente ajustado aos nobres empreendedores e abastados. Em suma, seria uma França criada pelos “notáveis” e para os “notáveis”.
A Revolução foi “arrancada de seu curso”por conta de uma série de indecisões e limitações dos “notáveis” para conduzir o processo que se avolumava entre 1792 e 1794. Mas, após o golpe do Termidor, os “notáveis” voltaram à cena, e, desta vez, para sempre.




F r a n ç a
(Século XIX)
após 1815

Tendências políticas
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Classe Md .Inferior
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