Última parte da matéria de História do Rio de Janeiro (P1). Vamos à luta, povo da História!
Napoleão Bonaparte assenhoreava-se da
Europa, determinando um Bloqueio no continente para prejudicar sua inimiga
fidagal, a Inglaterra, e impunha sua ordem às monarquias do Velho Mundo.
Reposicionando as peças no tabuleiro político do Ocidente, tomava trono dos insubmissos
e negociava com quem achava mais apropriado. Este foi o caso da Casa de
Bragança, em Portugal: a proposta de salvação pela submissão fora estudada pelo
então Príncipe-Regente Dom João, com a Inglaterra do outro lado, garantindo-lhe
a soberania. Se bem que, a custoso soldo...
O desfecho deste imbróglio, já é de domínio
público, além das cátedras: quinze mil pessoas (?) metidas em dezenas de
navios, escoltados por uma chantageadora Grã-Bretanha, Dona Maria divagando no
coche real e as dificuldades da realeza na travessia atlântica.
Em 22 de janeiro de 1808, uma sexta-feira, a
esquadra bragantina chegara a Salvador. A belíssima visão da baía de Todos os
Santos, a brisa fresca vinda do mar e a vegetação que se confundia com o solo
avermelhado típico da região eram atrativos encantadores para a fidalguia
portuguesa recém-chegada, porém recepcionada de maneira não condizente ao seu
status: o conde da Ponte, João Saldanha da Gama (governador da capitania), não
esperava que a comitiva real por lá passasse. “À constatação da precariedade
urbana e do esforço que os comuns faziam para agradar e receber a Corte, os
chegados depararam-se com uma praça africanizada na América, tantos eram os
negros escravos que compunham a
população, em verdade, maioria dela.
Cerimônias litúrgicas, rapapés, visitas aos
notáveis da terra: nada disso impedira Dom João de sacramentar o primeiro edito
régio no Novo Império Lusitano: a carta de Abertura dos Portos às Nações
Amigas. A bem da verdade, à verdadeira nação “amiga” – a Inglaterra. A partir
de então, os gêneros denominados molhados (vinho, azeite, aguardente) pagariam
24% ad valorem. Segundo a carta, poderiam ser levados pelos estrangeiros, com
exceção do pau-brasil e outros
monopólios, os “gêneros e produções coloniais”. Com exceção de França e
Espanha, os navios de todo o mundo poderiam transportar as mercadorias saídas
da colônia ou para ela remetidas. Ganhava-se, assim, a liberdade de comércio e
cumpria-se o tratado inicial com a Inglaterra, que previa tal tipo de acerto
(tratado relembrado duramente por Lord Strangsford, plenipotenciário inglês em
Lisboa, durante o período de pressão bélica francesa). No pique da Revolução
Industrial que viviam, os ingleses produziam prodigiosamente; e tudo trouxeram
os ingleses, tudo que a colônia jamais produzira por não possuir indústrias e
os locais sequer sabiam em que se utilizavam algumas dessas mercadorias, como
porta-notas, por exemplo, ou patins para gelos... Tais manobras comerciais
também atrasaram consideravelmente o nascimento da indústria no Brasil, pois
durante muito tempo, por conta das baixas tarifas, sempre se podia obter do
estrangeiro sem a necessidade de produzi-los por aqui. Abarrotara-se o mercado
muito além da capacidade de absorção do mercado brasileiro, detentor de numerosa
população escrava, pelas elites (a recém-chegada e a da terra) que mal e mal
davam conta de seu parco cotidiano.
A 8 de março de 1808, a Corte desembarcara
no Rio de Janeiro, até então uma quase-aldeia para os padrões europeus. Tinha
não mais que 46 ruas, quatro freguesias, dezenove campos ou largos, entre eles
o do Paço, calçado, com um chafariz desenhado por Carlos Mardel e substituído
por Valentim da Fonseca e Silva. Edificações pobres, vielas estreitas e
esburacadas, algo de vistoso e bem cuidado ainda se notava, como o prédio da
Ordem Terceira do Carmo. E enquanto o Vice-Rei, o conde dos Arcos, corria em
preparar a residência real no Paço, providências foram tomadas para acolher a
multidão de cortesãos, funcionários, militares, negociantes e demais acólitos
de além-mar; fora decretada a lei das aposentadorias, que
determinava aos proprietários dos melhores prédios nas proximidades do palácio
que os deixassem livres para abrigar os
recém-chegados. Como a medida instava que se desocupasse imediatamente,
autoridades do governo escreviam na fachada dos prédios escolhidos as iniciais P. R.
(Príncipe Regente). O povo, na ironia que lhe cabe, traduzira a abreviatura
para “ponha-se na rua”, ou ainda “prédio roubado”. E muitos proprietários se
defendiam com as armas que possuíam: simulavam ou mesmo realizavam obras
perfeitamente dispensáveis, obras eternas, nas quais andaimes passavam a
constituir parte integrante das fachadas, telhados com reparos sempre a fazer,
decorações inacabadas ou paredes que nunca se levantavam. Tais pirraças se
davam, grosso modo, com as personagens do segundo escalão da comitiva real, a
quem denominavam “toma-larguras”.
A seguir, era a hora de montar o aparelho
de estado que passaria a colônia a sede do reino. Instituições metropolitanas
foram acondicionadas na estrutura do ex-vice-reinado: o Desembargo do
Paço (instância jurídica maior, porém um cabide de favores mesmo em Lisboa) , a Mesa da Consciência e Ordens (de cunho
religioso), a Casa da Suplicação (grande tribunal do reino). Para garantir o
cumprimento das leis e a ordem da população na capital real, a criação da
Intendência-Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil, em 5 de abril de
1808 seria observada por todas as autoridades criminais e civis espalhadas
pelas cidades e vilas das capitanias. Cuidando das finanças, o Erário e o
Conselho de Fazenda administrariam as já existentes Junta da Fazenda,
Alfândega, Intendência da Marinha e Armazéns Reais. Ainda em 1808, criara-se o
Banco do Brasil para agilizar e atender os interesses do comércio.
Como o que acontecia não tinha antecedente
– a colônia virando metrópole e a metrópole virando colônia - , uma enxurrada
de documentos e publicações foram acumulando para concretizar essa inversão.
Era preciso publicá-los, mas não havia imprensa no Brasil, proibida que era por
editos reais anteriores, face a condição de colônia. Sendo outra a história do
momento, a 13 de maio de 1808 criara-se a Impressão Régia, que com o passar
dos anos modificara-se na razão de ser: em 1815, quando a colônia obteve o status de Reino Unido a Portugal
e Algarves, passara a Régia Oficina Tipográfica; em 1818, Dom João era aclamado
rei e a oficina mudara para Tipografia Real. O aparato servira para a “propaganda
do estado”. As obras que o governo mandava publicar chegava à oficina trazendo ao
pé da página de rosto a indicação: “Por ordem de S.A.R. (Sua Alteza Real). De seus
prelos saíra o primeiro periódico brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro.
Jorge, o q é IMBRÓGLIO?
ResponderExcluirNegócio intricado, enrolado.
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