segunda-feira, 19 de março de 2012

Aula de História Medieval, Prof. Alexandre Mérida, 08 Mar 2012











Uma resenha da introdução do livro do Prof. Hilário Franco Júnior, A Idade Média: Nascimento do Ocidente - O (pre)conceito da Idade Média. 




 FRANCO JÚNIOR, Hilário, Bacharel em História pela USP (1976), Doutor em História pela USP (1982), Pós-Doutorado na École Des Hautes Études/FRA (1983)

A Idade Média: nascimento do Ocidente, São Paulo: Brasiliense, 2001.

Resenhado por: Jorge Luiz da Silva Alves, aluno do terceiro período de História (noite) da Universidade Candido Mendes/RJ



O preconceito quanto à denominação do período entre a Antiguidade Clássica e o Renascimento, popularizado nos tomos como Idade Média, aconteceu a partir do século XVI, numa espécie de desprezo quinhentista pelo que consideraram um hiato figurado de “flagelo”, “ruína” do saber greco-romano. Rabelais falava deste período como “a espessa noite gótica”. Petrarca referira-se como tenebræ, ajudando na difusão das expressões latinas media ætas, media antiquitas, media tempora. Era a Idade Média uma interrupção no progresso humano, segundo aqueles contemporâneos; mas tais preconceitos subsistiriam nos séculos seguintes. No século XVII, os Protestantes vitoriosos contra o Catolicismo culpa-los-iam pela ignorância medieva pela supremacia do Papado; os homens ligados ao Absolutismo centralizado responsabilizavam a fragmentação política e aqueles reis fracos; burgueses lamentavam as limitações comerciais e os intelectuais deploravam aquela cultura tão abraçada aos valores espirituais. Anticlericais e antiaristocráticos, os homens do século XVIII, guiados pela Mãe Razão, reduziam a pó todos os mil anos de História Medieval com apartes extremamente contrários à religiosidade daquele período, responsável, segundo os enciclopedistas, pelo retrocesso da mente humana em direção à iluminação: “A Infame”, era assim que os Iluministas referiam-se à Igreja. Mesmo com uma sutil reação no século XIX, com o advento do Romantismo, a real compreensão sobre o que fora aquele período milenar continuava contraditória; a marcha vitoriosa dos ideais franco-revolucionários pela Europa inicialmente oitocentista cobrara um preço alto demais em conturbações, guerras e revoluções, que terminara por acomodar-se na estabilidade do liberalismo burguês e, desta feita, na valorização dos sentidos, dos sonhos e das recordações em detrimento do cientificismo setecentista. Porém, havia um exagero na exaltação ao medievalismo romântico dos Oitocentos, “...aquilo que amamos, que nos amamentou quando pequenos, que fora nosso pai e mãe, que nos cantava tão docemente no berço” (Jules Michelet, 1798-1874). Pintava-se o céu medieval com uma fulgurante tinta de estrelas, “a coisa mais elevada que a Europa havia produzido” (Thomas Carlyle, 1841). Somente no século XX é que passou-se a compreender, e não julgar, o período: a Idade Média teria que ser vista e revista com seus próprios olhos, numa atitude mais investigativa do que arbitrária. Mesmo que os clichês permaneçam (e devam ser desconsiderado sob a nova ótica), a historiografia moderna é um produto cultural que, como qualquer outro, resulta de um complexo conjunto de condições materiais e psicológicas do ambiente individual e coletivo que a vê nascer. Numa análise mais neutra: foi um período da história européia de cerca de um milênio, ainda que suas balizas cronológicas não estejam bem dimensionadas, ainda passíveis de discussão.

Referências:

M. CARRUTHERS, The book of memory. A study of memory in medieval culture,
Cambridge. CUP, 1990; B. GUENÉE, Histoire et  culture historique dans l'Occident Médiéval,
Paris, Aubier, 1980; E. MITRE.
Historiografia y mentalidades históricas en la Europa medieval, Madri, Universidad Complutense, 1982.



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