quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Sociologia da Educação - matéria da P1 do Mérida





Deu tempo. Agora, excepcionalmente, no blog - vamos que vamos, povo!


I – As bases sociológicas da educação:
Sociologia da Educação:  ramo da Sociologia preocupado com as interações sociais  às ações/reações de determinado grupo, sempre associados aos processos educativos.
Conceito de  Sociologia:
Segundo Auguste Comte: A ciência da sociedade.
Segundo Durkheim (abordagem restritiva): é o estudo das instituições sociais, de sua gênese e funcionamento.
Segundo Park (abrangente): a ciência do comportamento coletivo.
A Sociologia não se esgota no fato social, é preciso ir às próprias raízes da relação social, não apenas entre os homens mas até entre os animais que apresentam alguma manifestação de vida coletiva; conhecendo a origem qualquer de uma interação, entenderemos seus desdobramentos sucessivos.
O caráter dinâmico das relações sociais não pode escapar à sensibilidade dos estudiosos dos problemas sociais; nosso desempenho como educadores pode contribuir para retardá-las ou acelerá-las. E os professores (principalmente os primários) tem sido apontados como um dos grupos profissionais de mais acentuadas tendências conservadoras. As nossas escolas preocupam-se mais em ensinar aos jovens as disciplinas concernentes à técnica didática do que às voltadas para a fundamentação teórica da educação. Professores extremamente gabaritados na aplicação de métodos de aprendizagem mas incapazes de formular uma apreciação crítica razoável sobre o sistema educacional, no contexto global da sociedade.
Os futuros professores acabam aprendendo como ensinar, mas não aprendem por quê e para que ensinar.




II - Conceito de Educação:
Segundo Durkheim: “A ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas ainda não amadurecidas para a vida social”, ou seja: “Educação é a socialização da criança”.
Significado/importância da Educação: em última análise, é o que garante as condições de coesão, renovação e sobrevivência da sociedade.
Nas culturas complexas, é a educação que compete a tarefa superior de criar meios capazes de evitar que essa mesma complexidade destrua e elimine essa sociedade. As instituições educacionais que estabelecem e regulamentam mecanismos de transferência cultural, de formas de conhecimento socialmente úteis e domínio das técnicas de ação social para dominar essa complexidade contemporâneo-social.
Com isso, cada vez menos existem espaços para o autodidatismo, a improvisação, o “aprender a fazer, fazendo”. A passagem pelos bancos escolares assume um caráter cada vez mais compulsivo para todos que buscam seu “lugar ao sol”.
Conceito de Sociologia Educacional:

A Sociologia estuda a vida dos homens em sociedade; a Educação é o processo social pelo qual a Sociedade transmite sua herança, garantindo a continuidade da espécie humana. A sociologia da educação é uma disciplina que estuda os processos sociais do ensino e da aprendizagem, cabendo-lhe desvendar os véus que cobrem a realidade para ver até que ponto as necessidades sociais básicas estão (ou não) sendo atendidas com eficácia, apontando soluções viáveis para a superação de obstáculos que travam o funcionamento das instituições sociais.



III –  Cultura e Personalidade:





Segundo Ottaway:  “Personalidade é o tipo de pessoa que a gente é”, permitindo distinguir-nos uns dos outros ao mesmo tempo em que nos identificamos conosco mesmo. Através das formas de expressão de nossa personalidade é que somos reconhecidos pelos que nos cercam; por ela, expressamos nosso temperamento, tendências, atitudes em face do grupo, um somatório de aspectos somáticos, psíquicos e constitucionais que nos caracterizam.
No sentido antropológico, a personalidade entende-se como uma configuração que resulta da combinação ativa e renovada do meio físico e social em que vivemos, mais os fatores individuais, hereditários  ou congênitos que somos formadores.








IV  -  Educação dentro e fora da escola:
A educação ocorre em todos os ambientes  em que a criança se encontra, desde que haja adultos ou pessoas mais velhas, cujos padrões comportamentais a criança é levada a assimilar.
A educação é múltipla e una. A educação consiste na socialização metódica das novas gerações. O processo de socialização tende a ser coercitivo, impositivo e doutrinário (horário de refeições, educação sanitária, etc.) . A educação como socialização é constituído de dois seres: um ser individual (estados mentais que se relacionam conosco mesmo), e um ser social (sistema de idéias, hábitos e sentimentos que exprimem em nós o grupo ou os grupos que fazemos parte).
Não nascemos seres sociais e nem ele se desenvolve em nós, espontaneamente; É a educação, como socialização, que o leva a tais condutas sociais.
Na verdade, é o próprio indivíduo que se educa; porém, não nos esqueçamos que o grupo social dominante que cria o clima, proporciona os meios e determina os objetivos e a orientação deste processo.
Tanto fora quanto dentro da escola a educação pode ser intencional e não intencional.
Intencional: quando as condições  educativas (objetos, recursos, atividades) são previamente estabelecidas e arranjadas pelo grupo social; não intencional: quando o indivíduo (participante do grupo ou mero espectador) vai assimilando e incorporando maneiras de agir, pensar e sentir do grupo.








V -  Pequeno resumo histórico da educação:





A escola nem sempre existiu. Em sua evolução, podemos identificar várias fases: a época em que não havia escola, que todo adulto era professor; a escola da nobreza, na época medieval, em que predominavam os estudos literários; a escola da burguesia, na época moderna, quando começou a dar importância aos estudos científicos; a época posterior à Revolução Industrial, em que havia uma escola para os ricos, chegando aos estudos superiores, e uma para os trabalhadores, limitada ao primário; e a época do ensino público, gratuito e obrigatório até determinada idade (no Brasil é de 14 anos).

Pensamento de Jaime Pinsky, O Estado de São Paulo: “ Para ensinar cidadania, o professor tem de ser tratado como cidadão, e isso só ocorrerá quando uma irresistível e forte vontade política empolgar a nação” (01 jul 1993).

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Os Astecas e os Incas - 1ª da P1 de História da América



O basicão necessário para a prova do Edson Nascimento. Arriba, pueblo!


OS   ASTECAS  
I   -   Origens   -   Os Astecas, ou mexicanos (derivado de mexica ou azteca) dominavam a maior parte do México atual quando os conquistadores espanhóis ali chegaram em 1519. Segundo sua história tradicional, eles Vivian em Aztlán, país situado a noroeste do México ou ao sul dos atuais Estados Unidos; sua língua , o nahuatl, faz parte de uma família lingüística cujos dialetos se distribuem de norte a sul, do Utah até à Nicarágua. Chegaram ao México Central no século XIII e por longo tempo foram considerados semibárbaros, pobres, intrusos e sem terras. Antes de seu apogeu, toda a região hoje chamada de México vivera etapas de predomínio político-cultural de vários povos: a partir do IV Milênio a.C, o milho começou a ser  cultivado na região de Tehuacán; às margens dos lagos (Zacatengo, Ticomán e outros), os camponeses nativos levaram quase três milênios uma vida semelhante às das vilas neolíticas do Velho Mundo, atestando a existência de estruturas sociais bastante diferenciadas e, pouco antes da Era Cristã, os nativos de Cuicuilco era suficientemente numerosos e organizados para construírem a primeira pirâmide do planalto central.
       Na região atlântica do Istmo de Tehuantepec, os Olmecas constituíram a primeira das grandes civilizações mexicanas. Desde o II Milênio a.C, construíra imponentes centros cerimoniais, pirâmides e altares, estelas esculpidas, baixo-relevos, jadeístas cinzelados e, sobretudo, uma escrita hieroglífica, mais a contagem do tempo. Com os olmecas, surgem esses traços essenciais a todas as altas civilizações do México, sendo considerados o elo de transição entre o período pré-clássico (o de aldeia) e o clássico (civilização urbana). Desapareceram por volta de 400 a.C.
      O I Milênio desta era foi o período das civilizações “clássicas”. Quatro núcleos culturais principais brilham incomparávelmente: os Maias, ao sul; Monte Albán e Mitla no território dos zapotecas de Oaxaca; El Tajín, no atual estado de Veracruz (Golfo do México) e Teotihuacán, no planalto central – esta última, prodigiosa e elegante civilização, de templos suntuosos, máscaras em pedra dura (obsidiana) e deuses singulares, como Quetzalcoatl, símbolo da fertilidade agrária e dotado de extrema benevolência, não permitindo sacrifícios humanos.
     Em decorrência de fenômenos econômicos e sociais ainda obscuros, as cidades clássicas deste período foram pouco a pouco abandonadas entre os séculos IX e XI. Foi então que entra, pela primeira vez na história do México, os povos de língua nahuatl, que a partir daí vieram desempenhar um papel predominante. Oriundos do norte, os Toltecas fundaram sua cidade, Tula, sobre o local da aldeia otomi (um dos muitos povos secundários da região ainda do período Teotihuacán e sob sua influência social e religiosa), em 856, segundo a cronologia local. Bárbaros e pouco numerosos, aceitaram inicialmente a hegemonia da classe sacerdotal originária de Teotihuacán e fiéis à tradição teocrática da era clássica. Mas com a chegada de sucessivas vagas migratórias provenientes do norte, esse equilíbrio e aceitação se romperia. Trazendo novas idéias  e novos ritos, como os sacrifícios humanos e uma organização social militarista, conseguem vencer e banir os locais e seu deus Quetzalcoatl em 999. A civilização tolteca propriamente dita desenvolve-se a partir do século XI, e seus deuses celestes e sanguinários  superam as velhas divindades da água e da chuva, núcleo religioso das quatro civilizações do início do I Milênio. Reis guerreiros dividem com os sacerdotes os despojos e as vítimas para os altares de sangue, águias e jaguares representam os novos ícones culturais e religiosos, a civilização tolteca irradiara-se do planalto central para o oeste, para o leste e para o sudeste, até às selvas do Istmo, na fronteira com o mundo Maia, oferecendo um esplêndido fôlego à esgotada civilização do Primeiro Império Maia.O essencial de sua arte, religião e concepção dinástica sobrevivera até à conquista espanhola.  Em 1168, sucumbindo a dissensões internas e à invasão de novos imigrantes, a cidade de Tula caíra, saqueada e abandonada. Mas importantes contingentes toltecas continuaram, porém, estabelecidos em outras cidades, conservando a cultura apesar da queda da cidade.
      A derrubada tolteca provocara um profundo abalo em todo o mundo autóctone da época, a ponto de estimulas tribos bárbaras a marchar para o sul, sobre os escombros dos derrotados. Entre eles, os astecas, ainda bárbaros, nômades...mas guerreiros.
     II   -   Hegemonia asteca   -   Enquanto os astecas lentamente se aproximavam do México Central, um processo cultural surpreendente acontecia nessa região. As tribos bárbaras recém-chegadas, adotaram muito rapidamente a vida sedentária, a língua, a agricultura, os ritos e a forma de governo dos toltecas tardios. No século XIV, 28 estados compartilhavam o planalto central. Alianças, , guerras e golpes transformavam a cada dia o equilíbrio político. Época de violências e intrigas, mas também de rico desenvolvimento cultural. Sendo os últimos a chegar, os astecas passaram por inúmeras atribulações. A ponto de se refugiarem nas ilhas duma zona pantanosa a oeste do grande lago, fundando a cidade de Tenochtitlán.
     Os astecas levavam uma vida anfíbia, com pirogas e redes, subsistindo graças à pesca e à caça de animais aquáticos. Acumulando lodos sobre jangadas de bambu, criavam jardins flutuantes (chinampas). Mas o sonho dinástico não fora esquecido, o sonho que os levou a transitar por quase todo o México, à procura de sua identidade, e de solo próprio para sobreviverem. Gradualmente, foram se aliando a estados poderosos e que os humilhavam com frequência (dois monarcas astecas foram assassinados por líderes federados mais fortes), mas no governo de Itzcoatl (4º soberano), aliado a Nezaualcoyotl – herdeiro do trono de Texcoco, cidade pós-tolteca – rechaçou assaltos inimigos, levou a guerra a esses e o estado asteca ascendera à posição privilegiada num triunvirato de força entre Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopán. E após a morte desses dois soberanos, os astecas conquistaram a liderança deste triunvirato, expandindo-se muito mais do que os toltecas em sua época áurea, estabelecendo-se como a maior força imperial da história mexicana pré-européia.
    III   -   Sociedade e  governo astecas   -   ao se fixar no vale do México, a sociedade asteca era uma sociedade homogênea e igualitária, soldados e cultivadores, caçadores e pescadores que só reconheciam a autoridade sacerdotal, a deles próprios guerreiros e intérpretes de oráculos. Com a influência cultural e política dos vizinhos e também da própria conquista destes últimos, houve uma profunda mudança.  
     No ápice da sociedade asteca, estavam os dignitários e sacerdotes. Os primeiros distinguiam-se por possuir a investidura de altas funções militares e civis. Não se tratava de uma nobreza hereditária, beneficiavam-se da distribuição  de tributos  e recebia, segundo seu escalão, pedras preciosas, plumas e vestimentas valiosas. Em troca das vantagens que desfrutavam, os dignitários devotavam todo o seu tempo e energia ao serviço público. Os segundos apesar do privilégio de não pagar impostos e ter representação no Grande Conselho e no colégio eleitoral que designava o imperador, eram essencialmente religiosos, pois mesmo impregnado de religião, o estado asteca não era uma teocracia: as funções em momento algum, se misturavam. A aristocracia asteca possuía um conceito muito elevado de estado, sabia-se claramente a noção de bem público e o sentido dos deveres do soberano. Os negociantes, sem ostentar qualquer fausto exterior, detinham as riquezas possuídas sobre as quais se formava uma influência crescente na sociedade e em algumas células do governo. Atuavam em quase todas as cidades do império, possuíam uma divindade particular, seus próprios tribunais e seus próprios chefes, condição de independência e relativo poder desde que conseguiram rechaçar um ataque de tribos hostis no Istmo após quatro anos de combates contra saques de suas caravanas. O imperador da época, então, reconhecendo-lhes a fibra e organização, nomeou-os de “seus tios” e lhes concedera o privilégio de andar com jóias e ouro, uma vez que a aristocracia e a classe dirigente destacava-se pela austeridade e marcialidade. Os artesãos agrupavam-se em bairros próprios, também com seus deuses e ritos, em corporações distritais e tinham o título de “toltecas”, pois atribuíam a invenção dessas técnicas à antiga civilização Tula e seu herói simbólico, Quetzalcoatl. O povo, tribal a princípio caçador-coletor-pescador, transformara-se em uma sociedade hierarquizada, regida por estruturas complexas de acordo com o nível de vida das diversas categorias populacionais e respectivas posições no interior desta sociedade. Haviam os cidadãos comuns, pagadores de impostos, prestadores de serviço militar e tinham sempre uma corvéia pública (não senhorial) a seguir, na manutenção dos monumentos, canais, caminhos, diques, etc. Seus filhos e filhas dispunham de ensino gratuito; recebiam peças de vestimentas, alimentos tanto em distribuições regulares do governo como quando o imperador vinham em auxílio nos períodos de inundações, escassez ou outras calamidades.



OS  INCAS
I   -   Como  os  Incas  assumiram   a   liderança  na  Confederação  Cusquenha
Quando os Incas chegaram à região encontraram os três povos referidos lá radicados. Estavam muito perto um do outro e partilhavam, entre outras coisas, o mesmo idioma: o quechua (como nos referimos anteriormente, o quechua tornou-se posteriormente o idioma oficial do Tawantinsuyu, mas não era o idioma originário dos Incas. Eles o aprenderam com os povos aos quais se aliaram, e apesar de depois terem-no aceitado como idioma oficial conservaram até o final do século XVI o seu idioma originário (que segundo alguns lingüistas espanhóis assemelhava-se muito a um dialeto falado na Amazônia; talvez os Incas sejam provenientes da Amazônia)).
Os Incas, para poderem se radicar na região, tiveram que aliar-se a esses três povos, formando a chamada Confederação Cuzquenha. Manko Kapaq construiu o Intipcancha (que já mencionamos) e fez dele ao mesmo tempo palácio e templo. O povoado Inca se aglomerava ao seu redor. Por serem os mais novos membros da Confederação Cuzquenha, os Incas ocupavam uma posição inferior em relação aos demais três povos. A Confederação dividia-se em duas metades: Hanan e Hurin.
Hanan era a metade de cima, rica, forte e poderosa. Faziam parte delas os povos Sawasiray, Allkawisa e Mara. Já Hurin era a metade de baixo, pobre, fraca e subalterna. Esta metade era composta pelo povo Inca. Ao que parece, Hanan desempenhava as funções político-religiosas de Cuzco (a Confederação Cuzquenha com efeito se tornou a cidade de Cuzco), enquanto que Hurin era responsável pela defesa da Confederação. Sendo assim, os primeiros Inkas utilizaram o título de Sinchi (general), sendo chamados de Inka apenas pela metade de Hurin. Ou seja, Manko Kapaq, apesar de ser o fundador dos Incas, não passou de um Sinchi da Confederação Cuzquenha. 
Sinchi Roka <1320>:   
Antes de descrever este Inka, é interessante que se faça um observação no que diz respeito às datas colocadas após os nomes dos soberanos. Estas datas só serão precisas de Wayna Kapaq em diante. Nos Inkas anteriores, as datas servem muito para situar o leitor no tempo apenas como noção, não sendo portanto exatas.
Sinchi Roka era filho de Manko Kapaq, e como seu próprio nome nos diz também foi um Sinchi, não tendo assim muito poder dentro da Confederação Cuzquenha. Seu governo foi relativamente longo, mas não realmente importante no que diz respeito à história Inca. 
Lloki Yupanki <1335>:
Já havia duas Panakas Inkas, quando Lloki Yupanki recebeu a Maskapaicha.
A exemplo de seus predecessores, que não se sabe se foram seus parentes, também foi um Sinchi de Cuzco. Não fez nada além do que seus dois anteriores fizeram. Como eles, Lloki Yupanki seguiu as ordens de Hanan e garantiu o direito do povo Inka a prestar culto a Intip no Intipcancha. 
Mayta Kapaq <1355>:
Não foi um Sinchi muito relevante, assim como nenhum outro antes dele. Ocupou seu posto por cerca de vinte anos. Nesse tempo, apenas deu continuidade ao trabalho dos Sinchis anteriores. Mayta Kapak, assim como os sinchi antriores a ele, fez campanhas militares para saquear os povoados vizinhos em busca do butim oriundo do saque, e também rechaçou ataques que Cuzco sofreu em tempos muito hostis. 
Kapaq Yupanki <1375>:
Kapaq Yupanki teve um governo dos mais efêmeros. Não realizou nada em especial, mas também não ficou devendo nada em relação a seus precedentes.
Ele foi o último Inka de Hurin a ser submisso a Hanan. O poder militar adquirido por Hurin, graças a seus cinco Sinchis, colocava a metade outrora fraca e pobre em condições de contestar o domínio dos sacerdotes de Hanan sobre a Confederação Cuzquenha. 
Inka Roka <1385>:
É  um dos mais importantes Inkas da história Inca. Ele inicialmente foi escolhido como Sinchi de Hurin, porém a força que esta metade adquirira durante as chefias dos Inkas anteriores colocou o Sinchi numa posição muito confortável. 
Por volta de 1395, Inka Roka reuniu seus soldados e liderou uma expedição que atacou e dominou as três tribos formadoras de Hanan. Depois, o Inka levou a estátua de Manko Kapaq para a parte de cima da cidade, obrigando os antigos dominadores a prestarem culto a Intip e reverenciarem Manko Kapaq. 
O Sinchi acumulou as funções que pertenciam aos chefes das outras três tribos e unificou-as sob seu domínio. Podemos considerar que, a partir daí, a Confederação Cuzquenha acabou para dar lugar a cidade de Cuzco. Aos poucos, os povos de Sawasiray, Allkawisa e Mara foram se fundindo aos Incas de maneira que passaram a constituir uma única etnia. 
Inka Roka foi o primeiro Inka a merecer esse título em sua íntegra. Depois de unificar Cuzco sob seu domínio, partiu em campanha para aumentar a extensão territorial de seu poder. Ele chegou a tomar várias aldeias e pequenas cidades próximas a Cuzco, como Muina e Pinawa. 
Yawarr Waqaq <1415>:
Sem dúvidas, Yawarr Waqaq foi o mais inexpressivo de todos os soberanos Incas. Além de ter tido o mais efêmero de todos os governos, seu único feito relevante foi a perda de todos os territórios que Inka Roka havia anexado. As atitudes erradas do Inka desencadearam uma crise sem precedentes na cidade, fazendo com que, pouco antes de seu governo completar dois anos, ele fosse assassinado por conspiradores. 
Wiraqocha Inka <1418>:
Este pode ser considerado o ponto de partida do Tawantinsuyu. Quando Wiraqocha Inka assumiu o poder em Cuzco teve de combater um verdadeira rebelião na cidade. As etnias internas estavam lutando entre si, e havia a freqüente ameaça de uma invasão externa. Justamente por causa da situação periclitante em que se encontravam seus domínios, ele adotou o nome de um Deus, Wiraqocha (já fizemos menção a este Deus anteriormente), o Deus do Mar.
A adoção do nome fez com que muitos, inclusive os conspiradores que mataram Yawarr Waqaq, acreditassem que se tratava do próprio Deus encarnado. Por isso, as coisas para este Inka tornaram-se mais simples. Ele apaziguou as revoltas internas, deteve as tentativas de invasão e iniciou a expansão de Cuzco anexando diversas regiões próximas, num raio de 40km. Chegou até a dominar o famoso lago Titicaca.
Ao que tudo indica, o período de anarquia que se instaurava após a morte de um Inka teve seu princípio na ascensão de Wiraqocha Inka, pois devido ao tumulto causado pelo assassinato de Yawarr Waqaq a anarquia se instaurou e o novo Inka, para poder chegar ao poder, teve que derrotar os conspiradores. Temeroso de que com sua morte ocorresse um novo período de anarquia, Wiraqocha começou a preparar seu filho mais velho, Urqu, para ser seu sucessor.
Por volta de 1437, chegou a Cuzco a notícia de que uma grande horda de guerreiros estava se aproximando dos domínios do Inka. Eram os Chanka (povo ao qual nos referimos no item sobre o Império Chimu), guerreiros natos que estavam em busca de novas terras para seu reino. Em campanha militar há pelo menos cinco anos, vinham conquistando os povos ao sul do Império Inca com muita facilidade, devido a sua crueldade e obstinação na luta. Wiraqocha, já velho (alguns chegam a dizer que Wiraqocha assumiu o poder em 1400 e não em 1418; portanto, todos os fatos teriam 18 anos, em média, de atraso, se esta corrente estiver correta), decidiu que o melhor a fazer era retirar-se com o maior número de pessoas possível para a fortaleza de Calca. Lá ele pretendia, ainda vivo, entregar a Maskapaicha para Urqu.
Sendo assim, antes que os Chanka chegassem Wiraqocha resolveu partir. Pretendia levar toda a sua família e as Panakas dos Inkas mortos, além do máximo de pessoas que pudesse. Entretanto, seu filho Cusi Yupanki resolveu não abandonar Cuzco. Pediu tropas ao pai e disse que conteria a invasão Chanka a qualquer custo. Cusi Yupanki de fato conseguiu conter a invasão e, como recompensa, Wiraqocha permitiu que ele reinasse ao seu lado, tornando o Império uma diarquia. No entanto, Cusi Yupanki não ficou satisfeito com a situação, baniu Wiraqocha e tomou para si a Maskapaicha que seria dada ao irmão Urqu. 

                                                  
                                                  

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A CHEGADA DA FAMÍLIA REAL E POLÍTICAS DAÍ RESULTANTES



Última parte da matéria de História do Rio de Janeiro (P1). Vamos à luta, povo da História!


    Napoleão Bonaparte assenhoreava-se da Europa, determinando um Bloqueio no continente para prejudicar sua inimiga fidagal, a Inglaterra, e impunha sua ordem às monarquias do Velho Mundo. Reposicionando as peças no tabuleiro político do Ocidente, tomava trono dos insubmissos e negociava com quem achava mais apropriado. Este foi o caso da Casa de Bragança, em Portugal: a proposta de salvação pela submissão fora estudada pelo então Príncipe-Regente Dom João, com a Inglaterra do outro lado, garantindo-lhe a soberania. Se bem que, a custoso soldo...
   O desfecho deste imbróglio, já é de domínio público, além das cátedras: quinze mil pessoas (?) metidas em dezenas de navios, escoltados por uma chantageadora Grã-Bretanha, Dona Maria divagando no coche real e as dificuldades da realeza na travessia atlântica.
   Em 22 de janeiro de 1808, uma sexta-feira, a esquadra bragantina chegara a Salvador. A belíssima visão da baía de Todos os Santos, a brisa fresca vinda do mar e a vegetação que se confundia com o solo avermelhado típico da região eram atrativos encantadores para a fidalguia portuguesa recém-chegada, porém recepcionada de maneira não condizente ao seu status: o conde da Ponte, João Saldanha da Gama (governador da capitania), não esperava que a comitiva real por lá passasse. “À constatação da precariedade urbana e do esforço que os comuns faziam para agradar e receber a Corte, os chegados depararam-se com uma praça africanizada na América, tantos eram os negros  escravos que compunham a população, em verdade, maioria dela.
   Cerimônias litúrgicas, rapapés, visitas aos notáveis da terra: nada disso impedira Dom João de sacramentar o primeiro edito régio no Novo Império Lusitano: a carta de Abertura dos Portos às Nações Amigas. A bem da verdade, à verdadeira nação “amiga” – a Inglaterra. A partir de então, os gêneros denominados molhados (vinho, azeite, aguardente) pagariam 24% ad valorem. Segundo a carta, poderiam ser levados pelos estrangeiros, com exceção do pau-brasil e outros  monopólios, os “gêneros e produções coloniais”. Com exceção de França e Espanha, os navios de todo o mundo poderiam transportar as mercadorias saídas da colônia ou para ela remetidas. Ganhava-se, assim, a liberdade de comércio e cumpria-se o tratado inicial com a Inglaterra, que previa tal tipo de acerto (tratado relembrado duramente por Lord Strangsford, plenipotenciário inglês em Lisboa, durante o período de pressão bélica francesa). No pique da Revolução Industrial que viviam, os ingleses produziam prodigiosamente; e tudo trouxeram os ingleses, tudo que a colônia jamais produzira por não possuir indústrias e os locais sequer sabiam em que se utilizavam algumas dessas mercadorias, como porta-notas, por exemplo, ou patins para gelos... Tais manobras comerciais também atrasaram consideravelmente o nascimento da indústria no Brasil, pois durante muito tempo, por conta das baixas tarifas, sempre se podia obter do estrangeiro sem a necessidade de produzi-los por aqui. Abarrotara-se o mercado muito além da capacidade de absorção do mercado brasileiro, detentor de numerosa população escrava, pelas elites (a recém-chegada e a da terra) que mal e mal davam conta de seu parco  cotidiano.
   A 8 de março de 1808, a Corte desembarcara no Rio de Janeiro, até então uma quase-aldeia para os padrões europeus. Tinha não mais que 46 ruas, quatro freguesias, dezenove campos ou largos, entre eles o do Paço, calçado, com um chafariz desenhado por Carlos Mardel e substituído por Valentim da Fonseca e Silva. Edificações pobres, vielas estreitas e esburacadas, algo de vistoso e bem cuidado ainda se notava, como o prédio da Ordem Terceira do Carmo. E enquanto o Vice-Rei, o conde dos Arcos, corria em preparar a residência real no Paço, providências foram tomadas para acolher a multidão de cortesãos, funcionários, militares, negociantes e demais acólitos de além-mar; fora decretada a lei das aposentadorias, que determinava aos proprietários dos melhores prédios nas proximidades do palácio que os deixassem  livres para abrigar os recém-chegados. Como a medida instava que se desocupasse imediatamente, autoridades do governo escreviam na fachada dos prédios escolhidos as iniciais P. R. (Príncipe Regente). O povo, na ironia que lhe cabe, traduzira a abreviatura para “ponha-se na rua”, ou ainda “prédio roubado”. E muitos proprietários se defendiam com as armas que possuíam: simulavam ou mesmo realizavam obras perfeitamente dispensáveis, obras eternas, nas quais andaimes passavam a constituir parte integrante das fachadas, telhados com reparos sempre a fazer, decorações inacabadas ou paredes que nunca se levantavam. Tais pirraças se davam, grosso modo, com as personagens do segundo escalão da comitiva real, a quem denominavam “toma-larguras”.
     A seguir, era a hora de montar o aparelho de estado que passaria a colônia a sede do reino. Instituições metropolitanas foram acondicionadas na estrutura do ex-vice-reinado: o Desembargo do Paço (instância jurídica maior, porém um cabide de favores mesmo em Lisboa) , a Mesa da Consciência e Ordens (de cunho religioso), a Casa da Suplicação (grande tribunal do reino). Para garantir o cumprimento das leis e a ordem da população na capital real, a criação da Intendência-Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil, em 5 de abril de 1808 seria observada por todas as autoridades criminais e civis espalhadas pelas cidades e vilas das capitanias. Cuidando das finanças, o Erário e o Conselho de Fazenda administrariam as já existentes Junta da Fazenda, Alfândega, Intendência da Marinha e Armazéns Reais. Ainda em 1808, criara-se o Banco do Brasil para agilizar e atender os interesses do comércio.
    Como o que acontecia não tinha antecedente – a colônia virando metrópole e a metrópole virando colônia - , uma enxurrada de documentos e publicações foram acumulando para concretizar essa inversão. Era preciso publicá-los, mas não havia imprensa no Brasil, proibida que era por editos reais anteriores, face a condição de colônia. Sendo outra a história do momento, a 13 de maio de 1808 criara-se a Impressão Régia, que com o passar dos anos modificara-se na razão de ser: em 1815, quando  a colônia obteve o status de Reino Unido a Portugal e Algarves, passara a Régia Oficina Tipográfica; em 1818, Dom João era aclamado rei e a oficina mudara para Tipografia Real. O aparato servira para a “propaganda do estado”. As obras que o governo mandava publicar chegava à oficina trazendo ao pé da página de rosto a indicação: “Por ordem de S.A.R. (Sua Alteza Real). De seus prelos saíra o primeiro periódico brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro.  

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Vestígios do Rio Colonial (anexo tabelas)



Mais uma parte da apostila de História do Rio de Janeiro. Abração, povo da História!


OS VESTÍGIOS DO RIO COLONIAL

     Já se sublinhava a necessidade estratégico-mercantil do Rio de Janeiro antes de se tornar a porta de entrada para o Eldorado das Gerais. Segundo Brandônio, “(...)uma galharda fortaleza bem nutrida de artilharia, munição e soldados (...) uma cidade, posto que pequena, bem situada, a qual é de presente de grande commércio; porque vem a ella muitas embarcações do Rio da Prata, trazendo riqueza muitas em patacas(...) tomam porto as náos que navegam do reino pêra Angola, aonde carregam farinha da terra (mandioca) de que abunda toda esta capitania em grande cantidade (...)” .  Percebe-se indicações-chave neste texto sobre a economia carioca ao final do século XVI: um estamento militar, uma burguesia mercantil em estágio embrionário e de uma burocracia incipiente. Uma cidade onde, certamente, pululavam muitas patacas (reais de oito, moeda da época).
    Com o declínio português na Ásia, o comércio ilícito de prata peruana via Rio da Prata alçou o Rio de Janeiro a um degrau de relativa importância no comércio com as Índias, pois Portugal ficara sem o Japão e sofrera rude golpe com a abertura da rota Acapulco-Manilla pelos espanhóis, agora senhores das Filipinas. No entanto, a mercadoria mais importante era o escravo: um tripé vantajoso para a elite mercantil carioca era a exportação para Angola de farinha de mandioca do Recôncavo Fluminense, a obtenção de escravos africanos e a reexportação dos mesmos para Buenos Aires e daí para as minas de Potosí. Aos poucos, solidificaria a importância comercial da cidade fluminense nas redes do império português. O Rio exportava cachaça, algum alimento (farinha de mandioca, açúcar, fumo) e reexportava tecidos europeus. Importava marfim e escravos, obtendo algum ouro em pó na África e, simultaneamente, importava de Portugal tecidos, vinhos, bacalhau, exportando para lá açúcar. Adquiria tabaco de Salvador onde, de forma ilegal, o fumo de primeira qualidade era negociado com comerciantes europeus no Golfo da Guiné, após ser disfarçado como de “terceira qualidade”...
    A partir da descoberta de ouro nas Gerais (final do século XVII e início do século XVIII), intensifica-se o tráfico negreiro para a extração de ouro e aumento da produção do açúcar fluminense. Terceiro produtor de açúcar, com pouco mais de 10 mil  toneladas por anos em mais de seiscentos engenhos , o Rio de Janeiro presenciou no período de 1736 a 1810 o trânsito de uma multidão de escravos no seu porto; cerca de 580 mil. Nos idos de 1730, embora  a cidade tivesse apenas cerca de 30 mil habitantes, havia 17 navios registrados no porto dedicados exclusivamente ao tráfico de escravos.
   

EXPORTAÇÕES
           (EM REAIS)


IMPORTAÇÕES
(EM REAIS)

A   N   O

R E G I Ã O
254:152$100
368:777$390
1810
Benguela
779:708$000
933:124$000
1811
Portugal
113:715$336
577:966$890
1812
Índia
( fonte : “O Arcaísmo Como Projeto”, páginas 110 a 113)

 
Tecidos reexportados pelo RJ após compra externa – para Santos, RS, Benguela e Angola

1810-11-12

4:387:831$606
Escravos reexportados pelo RJ para Santos e RS
1810-11-12
500:614$900
Açúcar exportado pelo Rio para Portugal
1810-11-12
1:913:711$000
Reexportações de bens externos  para o mercado interno na comparação com o açúcar para Portugal no mesmo período
                      
   Como se pode notar, mesmo sendo uma praça oficialmente deficitária (tabela 1), as redes de intermediação pulverizam esse aspecto (tabela 2), gerando significativas receitas para a elite mercantil fluminense. O Rio de Janeiro mostra-se, de jure, como o eixo vital de negociações financeiras no Atlântico Sul , transformando esta cidade fluminense como a principal fonte econômica do império português.  

domingo, 16 de setembro de 2012

Matéria resumida da P1 - História do Rio de Janeiro



Aqui e agora, as duas primeiras apostilas: CONQUISTADORES  E  NEGOCIANTES  e  VILLEGAGNON (histórico da França Antártica)

Bons estudos, galera!


CONQUISTADORES  E  NEGOCIANTES
A conquista do Rio de Janeiro pelos lusos acontecera num momento em que o império português achava-se atacado em várias frentes, e eram sempre conflitos que oneravam em muito o erário. A solução para vencer os franceses e seus aliados tamoios entre 1560 e 1570 fora utilizar-se do velho sistema de mercês, ou seja: a conquista da região da Guanabara aconteceria com recursos da própria América Portuguesa.
Com isso, compreende-se o apelo do governador-geral Mem de Sá e seus capitães-mores Estácio de Sá e Antonio Salema em relação aos seus ministros, oficiais e aos potentados locais, todos como leais vassalos deveriam concorrer nas lutas contra os franceses e tamoios com seus recursos próprios  e dirigi-las.
 Mesmo os não “funcionários” vinham para a refrega. Estes e aqueles supracitados vinham  não somente em pessoa  mas também com todo um séquito – cabedais, parentes, escravos e flecheiros, entre tantos – que serviram inclusive para o bem e a povoação das plagas do Rio de Janeiro.
Tais ajudas lhes facultaria  solicitar futuras mercês régias e honrarias, conforme a lógica do Antigo Regime para aqueles desbravadores; afinal, nobreza se definia por ter cabedais para servir ao rei, sendo isso válido para os que pretendiam tornar-se cavaleiros ou para os que já o eram.
Com isso, formaram-se redes políticas entre segmentos das elites regionais e inter-regionais, constituição de uma nobreza da terra, interferência das parentelas dos conquistadores no governo da cidade e na montagem da economia da capitania.



 VILLEGAGNON E A SEQUÊNCIA DA FUNDAÇÃO DA FRANÇA ANTÁRTICA
Os franceses conheciam o Brasil (não com esse nome) desde a viagem de Jean Cousin pela foz do rio Amazonas em 1488. O armador francês Jean Ango possuía um comércio rendoso entre Brasil e França no século XVI que lhe rendera vultosos lucros com o transporte de madeira de pau-brasil, produtos, animais tropicais e até alguns indígenas para os portos da Normandia e Bretanha. Comentavam nesses portos que os portugueses raramente saíam de suas capitanias e que os tamoios não gostavam do modo como os peró (denominação dada pelos nativos aos portugueses) os tratavam. Todos os anos, navios franceses viajavam regularmente para a dita América Portuguesa, levando machados e bugigangas de todo gênero para a troca com os indígenas por todas aquelas mercadorias supracitadas, que faziam o gênero na Europa. Os artefatos de metal trazidos pelos franceses  produziram um avanço tecnológico significativo em algumas tribos, passando-as praticamente da idade da pedra em que se situavam para o uso dos metais sem ao menos saber como se criavam tais artefatos.
Os portugueses irritaram-se com esse intercâmbio vantajoso para os franceses, ainda achando-se abonados pelo tratado de Tordesilhas, mas esses faziam até mesmo reconhecimentos cartográficos na costa brasileira, tamanha a demanda do comércio e o privilegiado ponto estratégico da região.
A preparação da viagem exploratória de Villegagnon fora discretíssima e fora coberto de caráter comercial. Os indígenas informaram-no sobre os portos mais abrigados da região para que pudesse instalar a colônia francesa, núcleo da futura França Antártica, além de narrar-lhe sobre os hábitos dos portugueses. Soube que os lusos adiaram a instalação na Guanabara temendo os numerosos tupinambás, que os detestavam; com isso, esforçou-se Villegagnon para se relacionar com a maior cordialidade possível com os indígenas, o que se tornaria o fator decisivo para a próxima empreitada francesa na região.
Sucesso comercial garantido, Villegagnon ao retornar convencera o rei Henrique II sobre as possibilidades comerciais de uma colônia permanente no Brasil. Este ordenara ao seu principal ministro, o almirante Coligny (ainda católico na época) a preparação de uma expedição colonizadora ao Brasil e entregou o comando a Villegagnon. Partiram de Dieppe  a 14 de agosto de 1555 e dois meses e meio depois chegaram a Búzios.
Tendo chegado à Guanabara em 10 de novembro de 1555, tratou Villegagnon de estabelecer um forte na ilha de Serigipe e um contato habilidosamente amistoso com os nativos, diferente dos portugueses, vindos para escravizá-los para a mão-de-obra do cultivo de cana-de-açúcar. Segundo André Thevet, os víveres eram fornecidos pelos indígenas em troca  de objetos de pequeno valor. Não havia escassez de intérpretes pois na região viviam normandos desertores de outras viagens que habitavam com os índios e já eram fluentes na língua dos tupinambás. Entretanto, a situação político-religiosa na França e a penúria do erário francês não permitiriam enviar reforços substanciais para fortalecer a cabeça-de-ponte a ser instalada no Rio de Janeiro.
    A qualidade do elemento humano recrutado para essa empreitada foi o primeiro sério problema enfrentado por Villegagnon na instalação e administração da França Antártica. Boa parte fora arregimentada nas prisões do norte francês e eram pessoas  de mau caráter, indisciplinados e indolentes; muitos vieram para a Guanabara para se livrar das prisões, das galés ou mesmo das penas de morte, embora alguns fossem hábeis artesãos e/ou operários eficientes também. Muitos chegavam enfraquecidos ou adoecidos pelos rigores da travessia marítima e usavam de todo tipo de artifício para não trabalhar. O almirante precisou de muita energia para fazê-los trabalhar duro. A utilização de mão-de-obra indígena foi a solução para suprir essa dificuldade, mas meses depois os indígenas tornaram-se esquivos, pois muitos deles cansaram-se desse tipo de presente e queixavam-se do excesso de trabalho, visto que os franceses se eximiam das funções mais agrestes.
     Por falta de diplomacia do almirante, a questão sexual fora também uma chaga que doera fundo nas intenções de firmar o estabelecimento francês na Guanabara. Homens  que enfrentaram meses de difícil viagem e que se submetiam à rígida disciplina do Cavaleiro de Malta (Villegagnon), religioso intransigente, que abominava a idéia do comércio amoroso estabelecido entre os indígenas e os recém-chegados de além-mar, com a complacência do cacique Cunhambebe e dos maridos e pais das jovens, que recebiam presentinhos como compensação pelos favores concedidos pelas moças. Quando o almirante passou a exigir que seus marujos e colonos se casassem  com as moças   perante o notário, houve a oposição de muitos dos franceses, que preferiram fugir para a floresta e viver com os indígenas, perdendo assim, a colônia, homens de valiosa colaboração; outros, casaram-se contra a vontade e alguns que não cumpriram e ficaram foram punidos e até ameaçados de morte. Mas era a mentalidade da época, tanto para protestantes quanto para católicos.  O fato é que a disciplina, já de difícil imposição, ficara insuportável.
    A antropofagia dos tupinambás era outra questão espinhosa para o sucesso das relações entre franceses e nativos. Várias discussões aconteceram entre Villegagnon e Cunhambebe sobre a proibição dos indígenas comerem seus inimigos, coisa que pouca importância tinha para o êxito da França Antártica mas que os locais defendiam por tradição. O apoio de mão-de-obra nativa declinou em qualidade e quantidade no mesmo tempo em que o número de franceses diminuía dia após dia. Graças ao prestígio que Villegagnon gozava em Portugal é que os lusos receavam atacar o Forte Coligny:  só quando ele retornara à Paris para justificar-se de acusações calvinistas do gerenciamento da colônia é que Mem de Sá  atacara o forte, e ainda assim teve sucesso por causa do abandono dos seus defensores e da traição de um francês.
     Villegagnon escreve a Calvino (31 de março de 1557), explicando as graves dificuldades coloniais que o afligiam nos trópicos; da mesma forma (e por intermédio de seu sobrinho, Bois-Le-Comte), escrevera ao rei, ao Duque de Guise, a Coligny e a outras personalidades expondo a situação e solicitando reforços. Coligny terminara por mandar um pequeno e inexperiente grupo de calvinistas, que só dificultariam ainda mais a situação da colônia e seu fundador. Após escapar de um atentado contra a sua vida, o almirante viu a situação da colônia – tanto o forte Coligny, na ilha de Serigipe, quanto as instalações urbanas no continente, denominadas de Henriville -   ficar cada vez mais precária. Ao final, restara-lhe ao redor um reduzido número de franceses e escoceses (estes, de sua guarda pessoal) e alguns indígenas fiéis.
     Os portugueses infligiram uma derrota aos franceses e seus aliados indígenas em 1560, quando se reagruparam os sobreviventes e se refugiaram no Morro da Glória, plenamente ocupado e fortificado. Finalmente, em 1567, a investida de Estácio de Sá contra aquelas baterias fora decisiva de tal modo que forçara os franceses à busca dum acordo: quatro naus levaram a maioria dos derrotados de volta à França, um tanto resolvera ficar no convívio com os tupinambás, e só regressaram à Europa bem mais tarde. Estácio de Sá morreria com uma flechada envenenada naquela abordagem decisiva.




quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Renascimento Urbano na Idade Média







Eis aqui, a última peneirada do período: tudo de bom, moçada!









LIQUIDIFICANDO E PENEIRANDO
HISTÓRIA MEDIEVAL


O RENASCIMENTO URBANO




Enfim, o Mediterrâneo ocidental é libertado dos muçulmanos, graças a pisanos, genoveses, catalães e normandos; resulta disso um desenvolvimento das cidades costeiras italianas: Amalfi e Salerno, precursoras, são logo suplantadas em proveito inicial de Pisa e, em seguida, de Gênova e Veneza. Estas últimas encarregam-se da troca entre Ocidente e Oriente, beneficxiando-se dos privilégios monopolistas em algumas nações e impérios – como Veneza em Bizâncio e Gênova no Mar Negro, distribuindo produtos extremamente requiridos no Ocidente quase que com exclusividade, e revendem no norte da Europa. A metalurgia aumenta na Itália ao lado da invenção do tear horizontal, mais eficiente, facilitando a fabricação do tecido de lã, que enriquecerá Florença. Doravante, serão os italianos (denominados de “lombardos”) que atravessam cada vez mais os Alpés para vender seus produtos na França e na Alemanha.É o seu avanço que conduz a situar no centro da Europa a zona de trocas comerciais mais intensas, originando, assim, as feiras de Champagne. Produtos do norte e do sul são ali negociados entre as duas regiões comerciais mais ativas: Itália e Flandres. Feiras de periodicidades fraca, com frequência anual, semestral e, por vezes, trimestral, dotadas de privilégio pela autoridade controladora e estritamente controladas por ela.
O sinal do desenvolvimento das trocas nas feiras é manifesto pelo retorno da cunhagem do ouro, tentada com alguns príncipes após ser abandonada desde Carlos Magno e retomada com êxito pelas cidades italianas: o genovês, em 1252, o florim (Florença, que será modelo de muitas moedas européias no fim da Idade Média) e o ducado, de Veneza, em 1284.

O fenômeno da reafirmação urbana na Idade Média Central associa-se ao desenvolvimento das atividades artesanais e comerciais; mas não devemos descuidar da presença das autoridades militar (condal ou principesca) e episcopal, que suscita a manutenção de uma corte numerosa e cria um efeito de atração.

As cidades do Ocidente conheceram um forte crescimento durante a Idade Média Central. De início, formam-se burgos em torno das muralhas antigas: símbolo da renovação urbana, eles dão o seu nome aos “burgueses”, até que seja retornado para designar o 'conjunto de habitantes da cidade', nada tendo a ver com o têrmo atual, pois neste contexto medieval ele incide sobre trabalhadores assalarados quanto para cavaleiros, que residem na cidade. O desenvolvimento dá lugar a um fenômeno adotado a gosto pela historiografia do século XIX, a formação das comunas. Erradamente, a concepção de liberdade atual difere em muito a daquele tempo, pois no mundo medieval, liberdade consiste em obter franquias urbanas – por exemplo, a isenção de direitos senhoriais, em especial sobre os mercados e pedágios, ou a possibilidade de cobrar taxas por sua própria conta – e privilégios, permitindo uma organização política autônoma (conselho e representantes eleitos), o exercício de uma justiça própria e a formação de milícias urbanas. As cartas de franquia são, muitas vezes, objetos de negociação sem violência entre mercadores, aristocratas e autoridade condal-ducal. Em outras partes, é o rei quem cede as cartas, mas com frequência ele se reserva o direito de nomear as principais autoridades municipais. A principal hostilidade à formação das comunas vem dos clérigos, e é onde o bispo conserva maior controle das cidades que o movimento leva mais facilmente ao afrontamento violento.

Fortemente hierarquizada, as cidades estão nas mãos dos mais ricos. As comunas do século XII são fruto duma conivência entre a aristocracia cavaleiresca e a elite dos mestres de ofício, ou seja, apenas um punhado de homens – derrubando o conceito também idílico de “democracia” das cidades medievais e seus governos. As famílias aristocráticas detém a posição de destaque na cidade, impõe o respeito pela força militar, impressionam pelos seus palácios, pela abundância de seus servidores domésticos, pelo fausto de suas festas e seus deslocamentos. E embora residam nas cidades, os aristocratas permanecem ligados ao mundo rural pelos seus bens fundiários, cuja gestão delegam a homens de confiança e pelos seus laços familiares ao associação política com os dominantes que controlam as aldeias e os castelos rurais.

É preciso considerar que, ao menos, nos séculos XII e XIII, o poder de alguns governos urbanos passe pelas mãos dos principais mercadores e mestres de ofício (na Itália, denomina-se esse estamento superior de popolo grasso, apoiado ao popolo minuto para afastar antigos aliados aristocráticos); afinal, mercadores e artesãos não formam um grupo à parte, separados dos aristocratas milites, pois eles estão amplamente misturados e se fundem, ao menos parcialmente, no seio de uma elite urbana que combina atividades artesanais e mercantis com reinvidicação de 'nobreza', espírito contábil e ética cortês. Alguns conflitos urbanos, a despeito de etiquêtas enganadoras, põem em confronto facções da elite embora distintas, sociologicamente muito próximas. E essas refregas acabam oferecendo um espaço ao popolo minuto. O verdadeiro poder é retido pelos ofícios mais influentes (joalheiros, cardadores ou fabricantes de peles) , excuindo os ofícios inferiores (açougueiros, pedreiros, carpinteiros e trabalhadores de couro). Algumas famílias chegam a encampar cargos municipais constituindo verdadeiras dinastias – como em Flandres, por exemplo – e apenas ao fim dos séculos XIII e XIV é que o popolo minuto dos ofícios inferiores adquire mais força, obtendo um espaço de participação no seio das instituições urbanas. Mas, ao fim da Idade Média, os popolo grasso retomam o controle.

As atividades produtivas das cidade medievais são organizadas em ofícios, cujos regulamentos detalhistas fixam as normas de produção, qualidade dos produtos, preços, salários e condições de trabalho. Distante de qualquer noção competitiva e capitalista que viria com o advento da racionalidade econômica dos setecentos, a exigência de qualidade, definida pelas normas dos ofícios, permanece mais importante que o aumento da produção; há uma preocupação com a maximização dos rendimentos e do tempo de atividade, investimentos limitados e as considerações não econômicas determinam largamente a utilização dos lucros – poupança para prevenção de crises, aquisição de terras, fundações piedosas, investimentos no além-túmulo.

Estado de espírito novo, a cidade é também, em alguns casos notáveis, uma atividade intelectual animada que se concentra em torno de escolas de catedrais, colégios e, mais tarde, universidades. Estas sustentam uma produção de livros manuscritos nos ateliês laicos que logo superam os scriptoria monásticos. A efervescência intelectual é tão intensa que toma facilmente a forma de discussões públicas que animam praças e ruas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BASCHET, Jerome. A Civilização Feudal – do ano mil à colonização da América. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2012