Mais um texto 'liquidificado" para melhor compreensão no grupo de estudo desta semana - até amanhã, companheiros de sufoco!
LIQUIDIFICANDO E
PENEIRANDO
HISTÓRIA DO BRASIL COLÔNIA
RELIGIOSIDADE POPULAR NA COLÔNIA
MELO
E SOUZA, Laura. O Diabo e a Terra de Santa Cruz. São
Paulo: Cia das Letras, 1986
Resenhado por: Jorge Luiz da Silva Alves (3º período,
UCAM/Santa Cruz)
A organização do catolicismo no Brasil colonial fora forjada
pelos jesuítas, incentivado e sustentado pelo sistema do Padroado¹.
Com esse beneplácito papal para os reinos ibéricos desde antes do
descobrimento, o catolicismo colonial revestira de poder religioso as
autoridades reinóis nos trópicos, numa proveitosa interseção para
ambos os lados: a Inquisição assumia ares de polícia quase
política na privacidade popular e o governo da colônia decidia os
caminhos da Sé escolhendo e dirigindo os padres e suas paróquias.
Com a atuação dos capelães de engenho ao lado dos senhores,
Gilberto Freyre descuidou-se do papel do estado e enfatizou o das
famílias no processo da colonização, denominando como “catolicismo
de família”, ou seja, 'o capelão subordinado ao pater
familiæs'.
Assim, a religiosidade subordinar-se-ia à força aglutinadora e
organizatória dos engenhos de açúcar, integrando o triângulo da
Casa Grande-Senzala-Capela. O familismo explicaria, segundo o autor,
a acentuada afetividade e maior intimidade com a simbologia católica;
porém, o mesmo relegaria as manifestações indígenas à mata
fechada e as africanas à insalubridade da senzala. Ao descaso do
Concílio de Trento² no primeiro século de existência, é com o
referido familismo que Freyre preenche esse vácuo religioso na Terra
de Santa Cruz, pois o Concílio não legara qualquer dos seus
triunfos na cristandade católica da Europa meridional (Península
Ibérica e Península Itálica) no universo ultramarino.
Mesmo na Europa, a uniformidade tridentina demorara para se
estabelecer; somente no século XVIII é que os bispos setecentistas
“descobriram um povo rural que frequentemente não conhecia os
elementos básicos do cristianismo”. Keith Thomas chamava isso de
“religiosidade inortodoxa”. Havia um esforço enorme por parte do
catolicismo europeu da época, para separar o cristianismo das
camadas populares dos muitos veios de paganismo ainda existentes, do
profundo desconhecimento dos dogmas, a participação na liturgia sem
a compreensão do sentido dos sacramentos e da própria missa.
Delineava-se um confuso apego às missas e procissões impregnado de
magismo, afeito antes às imagens do que à coisa fugurada, mais ao
aspecto externo do que ao espiritual.
Eivado de paganismos e de “imperfeições”, o catolicismo de
origem européia praticado por esses fiéis que mal distinguiam o mal
do natural, a imagem da coisa figurada, o visível do invisível,
continuaria, na colônia, a se mesclar com elementos estranhos a ele,
multifacetados com a religião africana e às práticas dos
indígenas; a originalidade da cristandade brasileira residiria,
portanto, numa espécie de “mestiçagem espiritual”. Traços
católicos, negros, indígenas e até judaicos (os cavaleiros entre
duas fés: considerado judeu pelos cristãos e cristão pelos judeus
que vêem-nos afastando-se de seu credo original por questão de
sobrevivência) misturavam-se na colônia americana, tecendo uma
religião sincrética e especificamente colonial, repetindo-se aqui a
história da cristanização do Ocidente no nadir romano e no
alvorecer feudal.
(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Padroado_portugu%C3%AAs
(2) http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento
(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Padroado_portugu%C3%AAs
(2) http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento
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