quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Nas trilhas da História - Santa Cruz



   Sob o cruzeiro fincado pelos jesuítas ainda no século XVI, a enorme gleba enflorestada habitada pelos índios tamoios acompanhou a lenta e pulsante transformação operada pelos descendentes dos europeus, conservando, apenas, seu nome de origem: SANTA CRUZ. Quase cinco séculos depois, ainda é possível identificar as pistas deixadas pelos pioneiros, em cada praça, rua, campo do imenso bairro da Zona Oeste carioca.


   Não é preciso a desenvoltura dum Indiana Jones ou o acurado faro dum investigador para perceber a importância do passado local na historiografia da cidade; algumas vezes esbarramos com trechos sutis de História, ou semidestruídos pela especulação imobiliária ou generosamente imponentes, apesar do vergonhoso descaso das autoridades - e mesmo, de alguns de seus moradores. Salva-se aquilo que convém à campanha eleitoreira de sumidades (ou seja, quase nada) e, muitas das vezes, negligencia-se o grosso dum acervo valioso para a pesquisa acadêmica e memória popular. Basta, para isso, caminhar pelo bairro em quaisquer direções para que se tenha uma idéia do esquecimento quase criminoso.


   Por exemplo: quem de nós, moradores do local, saberia existir este desenho do imperador Pedro II, antes mesmo de declarada sua maioridade, no mirante do supracitado cruzeiro do bairro? Benjamin Mary, que foi o primeiro embaixador da Bélgica no Brasil, retratou D. Pedro II sentado em uma cadeira sob a proteção de um guarda-sol segurado por um dos áulicos, no dia 6 de novembro de 1837. Não fosse uma feliz coincidência num sítio de busca , e jamais saberíamos de tão relevante registro para nossa memória local. Essa é a verdadeira alma da história, a que se faz de modo aleatório e por puro e sincero amor à cultura. Não apenas para os lucrativos eventos da mídia ou os saraus das elites enfastiadas.


   A História que pode estar num quintal de periferia, sob os entulhos duma obra ou de camadas de asfalto, ou reduzida a milhares de cacos vitrificados na borda de piscinas. A História que você nem mesmo sabe que existe - mas está lá, assombrando-nos para que descubramos e revele num testemunho a sua serventia de outrora. E esquecida no presente para que desapareça de vez de nossa memória.  




                                 Jorge Luiz da Silva Alves - História - UCAM/Santa Cruz

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