Para que o projeto português no comércio das especiarias fosse bem sucedido, longe de concorrências locais e mesmo do embrionário expansionismo europeu além do Atlântico, houve a necessidade em se controlar o acesso às rotas aos portos das chamadas 'Índias'; utilizando-se de um expediente similar ao dos romanos na Antiguidade (que levou a transformar o Mediterrâneo no famoso "Mare Nostrum"), as naus portuguesas singraram os confins do oceano Índico levando padrões e tropas aos estreitos que ligavam o referido oceano ao restante do mundo. Assim, Portugal obteve o controle das alfândegas de Malaca (sudeste asiático), Macau (extremo sul chinês), Áden (no Bab-El-Mandeb, entre a Arábia e a Somália) e a mais famosa e poderosa de todas as passagens fortificadas - demonstração do gênio e da força lusa no século XVI -, a Fortaleza de Ormuz, na entrada do Golfo Pérsico, hoje uma das regiões mais vigiadas do globo por conta do trânsito dos petroleiros saídos da área que abastece dois terços do mercado global de combustíveis.
As informações abaixo visam apenas o interesse no assunto, não servindo para consulta acadêmica ou estudo mais aprofundado. Boa leitura!
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O Forte
de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz localiza-se na ilha de Gerun, no estreito de
Ormuz, atual República
Islâmica do Irão.
Ormuz (ou
Hormuz) foi uma importante cidade marítima e um pequeno reino próximo à entrada
do golfo Pérsico.
O primitivo sítio da cidade era na margem norte do Golfo, a cerca de 30 milhas
a leste da atual Bandar Abbas.
Por volta de 1300, aparentemente em
função de ataques Tártaros,
foi transferida para a pequena ilha de Gerun, que pode ser identificada como a Organa de Nearcho, aproximadamente 12 milhas a oeste
e a 5 milhas da costa.
Na seqüência da afirmação da presença portuguesa na Índia,
compreendeu-se a importância do controle do comércio com a península Arábica. Impôs-se assim a conquista
de Ormuz, por sua posição estratégica, dominando a entrada do golfo Pérsico. A
outra rota passava por Áden, próximo ao Bab-el-Mandeb,
por onde se acede o mar Vermelho.
Ormuz constituía-se em um dos mais importantes
centros comerciais da região, em seu mercado sendo trocadas cavalos e pérolas,
de tal como que viria a ser considerada porAfonso de Albuquerque como a "terceira chave" do Império Português na Ásia, juntamente com
as praças-fortes de Goa e Malaca.
Albuquerque fez a primeira tentativa para
controlá-la em 1507. À frente de uma
pequena frota de sete navios com uma força de quinhentos homens, dirigiu-se a
Ormuz, tendo no percurso conquistado as cidades de Curiate (Kuryat), Mascate e Corfacão (atual
Khor Fakkan) e aceitado a submissão das cidades de Kalhat e Soar (Sohar).
A frota portuguesa ancorou diante da cidade; o seu
governante estava preparado para um ataque, contando com um efetivo que
ascendia a de 15 a 20 mil homens de armas. Sem se intimidar, Albuquerque
intimou-o a prestar-lhe homenagem e a tornar-se vassalo do rei de Portugal.
Recebeu uma resposta evasiva, numa clara tentativa de ganhar tempo nas
negociações. Ao final de três dias de espera, a artilharia portuguesa entrou em ação, tendo
destruído a frota de Ormuz. Vendo as suas forças destroçadas, o soberano de
Ormuz solicitou uma trégua oferecendo a cidade aos portugueses. Desse modo,
Albuquerque concluiu, em setembro de 1507, um tratado pelo qual o soberano de
Ormuz deveria pagar um tributo anual ao rei de Portugal. Como fruto desse
acordo, iniciou ainda uma fortificação, cuja pedra fundamental foi lançada em 24 de outubro desse mesmo ano, sob a invocação de
Nossa Senhora da Vitória.
Os trabalhos terão ficado a cargo do mestre de
pedraria Tomás
Fernandes.[1]
Durante esses trabalhos registou-se o chamado
"Motim dos Capitães", um episódio de insubordinação que culminou com
a deserção de três capitães portugueses. Estes, com o apoio do soberano de
Ormuz, deram combate às forças de Albuquerque no início de janeiro de 1508. Após alguns dias de
batalha, Albuquerque e os seus viram-se forçados a retirar da cidade,
abandonado o forte em construção.
Em março de 1515, Albuquerque retornou
a Ormuz, à frente de uma frota de 27 navios, com um efetivo de 1.500 soldados
portugueses e 700 malabares,
determinado a reconquistá-la. Bem sucedido, ocupou a posição da antiga
fortaleza em 1 de abril,
retomando a sua construção, agora sob a invocação de Nossa Senhora da
Conceição.
Nessa época, os principais portos do golfo Pérsico
e da Arábia, tais como Julfar, Barém,Calaiate (Qalhat), Mascate, Catifa (al
Qatif), Corfacão, e as ilhas de Queixome
(Qeshm) eLareca, encontrava-se sob o domínio do
reino de Ormuz. Com a sua queda, todas as cidades e portos da região tornaram-se
tributárias do rei de Portugal: o reino de Ormuz permaneceu como uma potência
regional, em articulação com o Estado Português da Índia. Sob esta fórmula, a
presença portuguesa na região estendeu-se por mais de um século, até aos anos
de 1620-1650.
Um documento coevo relaciona os portos que pagavam
tributo a Portugal: Aigom e Docer "portos que estam na barra de terra
firme", Brahemim "porto que esta de fora da ilha d'Oromuz na
terra firme", Tezer "lugar na terra firme", Beabom,
Borate, Jullfar (Julfar), Callayate (Qalhat), Horfacam (Khor Fakkan), Caçapo
(Khasab), Broqete "na ilha Qeixa", Lafete "na ilha
Qeixa", Qeixa "na ilha Qeixa", Garpez "na
ilha Qeixa", Rodom, Costaque, Chagoa, Callecazei e Lebedia (in: Rendimento da cidade de Oromuz e
seus reinos, 1515.)
Em 1521, o soberano de Ormuz
rebelou-se contra o domínio português, mas foi derrotado e destronado, um novo
governante aliado tendo ocupado o seu lugar.
Em 1523, D. Luís de
Menezes ocupou Soar, que havia se revoltado e, após
fazê-lo, prosseguiu para Queixome,
onde um novo tratado foi celebrado com o novo governante, em virtude do qual
uma feitoria portuguesa foi ali estabelecida.
Em 1526, o Vice-rei da Índia, Lopo Vaz de Sampaio (1526-1529), submeteu Mascate e Khalat
que haviam se revoltado.
Em 1528 Cristóvão de Mendonça era Capitão-mor da Fortaleza de Ormuz.[2]
Em 1550-1551, os Portugueses
conquistaram aos Turcos o Forte de El Katiff (Al Qatif) na Arábia. Em 1551-1552, os Turcos atacaram e
saquearam Mascate. Com a sua retomada pelos portugueses e para complemento da
defesa de Ormuz, foi iniciada a Fortaleza de Mascate.
Em 1559, os Turcos sitiaram
os Portugueses no Forte de Barém, mas, após vários meses de
cerco, foram forçados à retirada.
Data deste período, o final da década de
1550, a intervenção do arquiteto obidense Inofre de Carvalho na fortificação de Ormuz.
No contexto da Dinastia
Filipina, as possessões portuguesas em todo o mundo tornaram-se alvo
de ataques dos inimigos de Espanha,
e no golfo Pérsico, particularmente dos Ingleses.
Neste período conturbado, os eventos sucederam-se
rápidamente, até à perda das praças portuguesas e do controle da região.
Em 1581, Mascate foi uma vez
mais arrasada pelos Turcos. No ano seguinte (1582), o soberano de Lara
(a ilha de Larack, vizinha a
Ormuz), que se revoltara, impôs cerco à Fortaleza de Ormuz. Os Portugueses,
entretanto, conseguiram rechaçar os invasores e, a seu turno, impuseram cerco
ao Forte de Xamel, em Lara,
que conquistaram.
Finalmente, em 1588, a Fortaleza de
Mascate estava reconstruída e a cidade fortificada, assim como havia sido
erguida uma fortificação próximo a Matara (Matrah) – o Forte de
Matara.
Por volta de 1591, com planos de Giovanni Battista Cairati, as defesas da
fortaleza de Ormuz foram reforçadas.
O abastecimento de água potável de Ormuz era feito
a partir dos poços em Comorão, na costa persa. Aqui os Portugueses mantiveram
um forte (Forte de Comorão), que capitulou ante os persas
em 22 de
setembro de 1614.
Em 1616, Soar, que havia se
revoltado uma vez mais, foi capturada por uma frota Portuguesa e o seu
soberano, executado.
Em 1619, a fortaleza de Ormuz
contava com um efetivo estimado entre quinhentos a setecentos soldados.
Em janeiro de 1619, Rui Freire de Andrada, "General do
Mar de Ormuz e costa da Pérsia e Arábia", partiu de Lisboa para a região, com instruções para
dispersar os Ingleses, que haviam fundado uma feitoria em Jâsk desde 1616, pressionando os
Persas, em parte desalojando-os da guarnição em Qeshm e ali erguendo uma
fortificação portuguesa. A armada fundeou em Ormuz a 20 de Junho de1620.
Em 1620 forças portuguesas sob o comando de Gaspar Pereira Leite erguem o Forte de Corfacão (atual Khor Fakkan).
Em 8 de maio de 1621, forças portuguesas
sob o comando de Rui Freire de Andrada iniciam a construção do Forte de
Queixome(Qeshm), para assegurar o suprimento de água potável para
Ormuz. Este ato foi considerado como um sinal de hostilidade declarada pelo Xá
da Pérsia, que, em 1622, com o apoio de
forças árabes, consegue capturar Julfar aos
Portugueses.
Na seqüência da queda do Forte de
Queixome (11 de
fevereiro de 1622), uma flotilha do Xá Abaz I da Pérsia, com mais
de 3.000 homens e o apoio de seis embarcações Inglesas,
colocaram cerco ao Forte de
Ormuz (20 de
fevereiro). Os Persas ofereceram ao comandante português da praça a ilha de Qeshm em troca de 500.000 patacas e o porto de Julfar, na costa da Arábia,
recém-conquistado aos portugueses. A oferta, entretanto, foi recusada e, em
poucos meses, Ormuz era perdida para os Persas e seus aliados Ingleses (3 de maio).
A guarnição e a população portuguesa na ilha, cerca de 2.000 pessoas, foram
enviadas para Mascate.
Ainda por uma década as forças Portuguesas, sob o
comando de Rui Freire de Andrada, empreenderam diversas tentativas para
reconquistar a fortaleza de Ormuz: militarmente em 1623, 1624, 1625 e 1627, e diplomáticamente em 1631, todas sem sucesso.
Com a queda de Ormuz, os Portugueses fixaram a sua
nova base em Mascate, estabelecendo em 1623 uma feitoria em Basra, na foz do rio Eufrates.
Nesse mesmo ano, Rui Freire de Andrada reocupou o Forte de Soar, perdido no ano
anterior para os Persas e uma nova base de operações foi estabelecida em
Cassapo (Kashab) na Península de Musandam.
Em 1624 o Forte de
Quelba foi conquistada
por Gaspar Leite; nesse mesmo ano, em maio, Mateus de Seabra conquistou o Forte de
Madha. Em 1624-1625, na sequência da assinatura de um tratado com os
Persas, uma feitoria e uma fortificação foram estabelecidas em Congo (Bandar Kong), na costa
Persa do golfo Pérsico.
Finalmente, em 1631, os Portugueses
ergueram o Forte de Julfar,
importante ponto estratégico na península Musandan: durante o domínio português
esta cidade conheceu um período de grande prosperidade, na qualidade de
entreposto comercial regional.
O principal personagem deste período na região, Rui
Freire de Andrada, faleceu em Setembro de 1633, sendo sepultado na
Igreja de Santo Agostinho, em Mascate. Após a sua morte, no período que se
estendeu até 1635, tratados de paz
foram celebrados com os Persas e com os Ingleses.
De modo geral, considera-se que a presença
Portuguesa no Golfo Pérsico ficou mais estável após a queda da fortaleza de
Ormuz. De fato foram fundadas uma série de fortificações e feitorias como as de Soar,
Julfar, Doba (Dibba Al-Hisn), Libédia, Mada (Madha),Corfacão (Khor
Fakkan), Caçapo (Khasab), Congo (Bandar Kong) e Basra.
Em Agosto de 1648, os Árabes impuseram
cerco a Mascate e, em 31 de outubro,
um tratado foi celebrado entre Árabes e Portugueses: pelos seus termos, estes
últimos deveriam arrasar as suas fortificações em Curiate, Doba e Matara.
Em Janeiro de 1650, Mascate, a última
posição Portuguesa na Arábia foi conquistada pelos Omanitas. Com essa perda,
Portugal ficava privado de sua última fortaleza na vizinhança do Golfo Pérsico
e encerrava-se o chamado "Período Português" no Golfo.
CONQUISTA DE MALACA, 1511.
Campanhas de Afonso de Albuquerque, Volume II
de Vítor Luís Gaspar Rodrigues e João Paulo Oliveira e Costa
Lisboa, Tribuna («Batalhas de Portugal», 33), 2012
120 págs.
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