Primeira parte da apostila do Rodrigo Amaral, diluída para compreensão. Faz-se necessário o uso paralelo da apostila do curso. Abração!
INÍCIO DA PLANTAÇÃO DE CAFÉ NO RIO DE
JANEIRO => Pouco mais
que uma curiosidade na Europa seiscentista, o café já era consumido na Corte de
França com esse fito, e há registro de cafés públicos em Paris no início do
século XVII. Ao longo do século XVII, a marcha do café no Caribe esticara-se
para o norte do Brasil, tendo o tenente Francisco Palheta iniciando o cultivo
em terras do Pará. No Rio, há evidências de plantio a partir do Convento dos
Barbudinhos (sito na Rua Evaristo da Veiga) em São Cristóvão, Mendanha, São
Gonçalo e Resende.Dom João VI concedera sesmarias para o cultivo de café até
mesmo na região de Juiz de Fora. Por volta de 1784, é o Haiti quem responde por
mais de 50% da produção mundial da rubiácea, mas as guerras napoleônicas e a
independência deste país em 1791 desorganizaram a produção caribenha, no
instante em que ocorre um interesse do mercado norteamericano, e já se
contabiliza uma significativa evolução
na exportação do produto entre 1796 e 1808. No início do século XIX, o café,
como atividade econômica central, nascera no interior da cidade do Rio de
Janeiro; a Floresta da Tijuca fora o foco de inúmeras pequenas plantações, e
mesmo em quintais da cidade a cultura difundira-se com vigor. Tal foi a
evolução que, com o advento do Império em 1822, os ramos de café ornaram o
brasão do Estado Brasileiro ao lado do fumo na constituição de suas armas.
A produção do café é trabalhosa ainda
hoje, e, naquele período, as condições eram singulares no Rio de Janeiro, uma
província cuja geografia (quase inteiramente de planalto, montanhosa e de
vegetação arbórea cerrada) já dificulta : uma operação minuciosa de
desmatamento e limpeza do terreno era feita mas não se obedecendo regras para
evitar a erosão, pois o plantio das
fileiras de café nas escarpas eram feitas de baixo para cima, facilitando a
erosão. Em torno de cinco anos era o
prazo para possíveis lucros com o processo, e a cadeia de endividamento com
ferramentas, escravos e alimentos fazia parte deste processo, sendo grande ou
pequeno produtor. A alta valorização do
café permitira uma disponibilidade generosa de terras para o cultivo, e a
partir de 1850, com o bloqueio do tráfico negreiro e sob a Lei de Terras e o
Código Comercial, os grandes proprietários constituíram a plantation cafeeira no Vale do Paraíba sobre a impotência
financeira dos pequenos agricultores, amarrados por um inflexível mecanismo
legal de manutenção de suas glebas.
O ‘MODUS
OPERANDI’ CAFEEIRO NO
VALE DO PARAÍBA => Na economia escravagista, a fazenda plantada
tinha baixa liquidez; o imobilizado de grande valor era o conjunto de escravos,
e na formação duma fazenda com cafezais plenamente produtivos, a escravaria
operacional representava aproximadamente 40% do valor da propriedade. Apesar de
tudo, a plantação ainda utilizava alguma mão-de-obra livre como feitores,
artesãos e carreteiros. A terra nua, com
revestimento florestal, representava de 3 a 5% do valor do cafezal. Havia
indícios de uma produção mercantil de alimentos em regiões fluminenses e
mineiras não vocacionadas para o cultivo da rubiácea, face à demanda das regiões
essencialmente cafeicultoras, apesar de que o grosso dos alimentos e animais de
carga para as plantations derivavam de
Minas e sul do país; mas nos baixios férteis da província do Rio de Janeiro a
cultura da cana e a pecuária de corte ainda ocupavam espaço preferencial na
economia local.
Ao longo da primeira metade do século
XIX, o café produzido na província do Rio de Janeiro sustentou a demanda
mundial com 60% da produção. Principal produto de exportação brasileiro e dono
do porto maior desta produção, o
dinamismo cafeeiro acelerara tanto a oferta da rubiácea no mercado – este criado
em âmbito global por conta desta mesma oferta – que o café deixara de ser bem
de luxo e barateara a ponto de se incorporar ao consumo básico da população
operária internacional.
O
ÁPICE E O
DECLÍNIO => Mesmo assim, o dinamismo desse sistema
dependia da oferta contínua de escravos para a mão-de-obra; os ganhos do
capital mercantil com o café retornavam sempre ao circuito ampliado da lavoura
cafeeira. Com a interrupção da chegada de escravos (1850), a cafeicultura
drenou escravaria de outras regiões, principalmente do Nordeste. Face à
valorização dos escravos por conta das limitações no tráfico, criara-se também
uma folga cambial pela redução de gastos com esse mesmo tráfico, mobilizando-se
capital para o consumo suntuário e o ciclo ferroviário. Empresas ferroviárias
privadas foram fundadas e capitalizadas pelo complexo cafeeiro a partir de
1854/1858, a ferrovia liberou muitos escravos comprometidos com o transporte do
café para a lavoura, e, com isso, intensificando a demanda de alimentos na
agricultura fluminense neste ‘boom’ de meio de século XIX. A infraestrutura do
Rio de Janeiro começara a receber insumos derivados da folga escravagista e
moldando aos poucos o aspecto da capital imperial, ao passo que as lavouras do
Vale do Paraíba aproximam-se do início de seus esgotamentos, cedendo espaço
para a proliferação cafeeira no oeste paulista, na segunda metade do século
XIX; embora até à Abolição, o Rio liderará a produção cafeeira nacional e
mundial.